sexta-feira, 29 de março de 2024

A CRISE DE IDENTIDADE DAS ESQUERDAS E OS RUMOS DO PT

 

por Jeorge Cardozo*


Há uma crise de identidade nas esquerdas mundial, com reflexo na nacional.

No caso brasileiro que devemos fazer uma análise pormenorizada na conjuntura política atual, pré eleições municipais que terá reflexos direto na eleição nacional de 2026. Mas esse não apenas o fim do abismo, entre outros. Mais do que isso, a reflexão crítico - teórica a que me proponho a preconizar neste texto, passa também pela eleição municipal montesclarense do ano em epígrafe.

Ao analisar o atual estágio das esquerdas, no caso aqui, vamos nos atermos ao caso brasileiro. Não que esse problema seja só nacional, mas, também de caráter transnacionais. Mas, por uma questão da grande dimensão do tema ora proposto, vamos nos concentrarmos à questão local brasileira, com resquícios nos estados e municípios.

Ao dialogar com a problemática citadas na introdução, entendemos que a perda de identidade das esquerdas remota, ainda, a queda do muro de Berlim e a consequente derrota do Império Comunista Soviético, no final dos anos 80 e início dos 90, culminando com a globalização e as três derrotas eleitorais de Lula, quais sejam, 89, 94 e 98, e a consequente mudança de rumo do partido, para a disputa de 2002. 

Até às derrotas de 89, 94 e 98,  o PT fazia a disputa política e ideológica, baseada na luta de classe preconizada nas ideias de Marx e Engels, porém, com às derrotas narradas acima, veio do próprio Lula, a ideia de mudanças de paradigma dentro do PT.

Para tal enfoque, grupos ditos de esquerda, de caráter marxista, foram sendo expurgado do PT, como o caso do grupo que formou o PCO; depois os que formaram o PSTU; o grupo que formou o PSOL e por último, o grupo que formou a Rede. 

Esses grupos quando ainda estavam no PT, e ganhavam os encontros nacionais, aliados a outros grupos remanescentes dentro do PT, davam um tom de esquerda radical ao partido e tinha no socialismo o seu caminho natural. Portanto, foram esses três paradigmas que o PT se utilizou nas eleições derrotadas de 89, 94 e 98, que, de alguma forma, não agradavam aos setores dominantes do capital, em todas as suas esferas.

Obviamente que Lula nunca foi um esquerdista convicto, não obstante, que o mesmo foi tomar curso de sindicalismo nos Estados Unidos, em detrimento da União Soviética, até então, centro do socialismo deturpado de autrora.

Após às derrotas de 89, 94 e 98, Lula chega para as eleições de 2002, com "novas" ideias, tirar o PT de uma política ideológicas de esquerda socialistas de caráter marxista, para o paradigma social liberal a lá Keynes. Para tal enfoque, liderou as expulsões dos grupos todos como radicais de esquerda citados acima do partido, impondo, para a disputa de 2002, o paradigma keneysiano ao encontro nacional do PT. Vitorioso com sua tese, de um PT social liberal, buscou costurar aliança com os setores empresariais progressistas , e como consequências desse novo  paradigma petista, convidou um ícone do empresariado progressista José de Alencar, de um estado importante e estratégico eleitoralmente, como Minas Gerais, para ser o seu vice.

Com essa aliança social liberal, ou seja, lembrando um "morcego", agora o PT e o setor empresarial pôde "morder e assoprar" ao mesmo tempo. Intensificando as políticas sociais iniciadas de forma "caduca" nos governos de FHC, as políticas sociais foram incorporadas e aperfeiçoadas nos governos petistas, em comum acordo com os setores empresariais progressistas. Obviamente, que essa aliança entre PT e empresariados progressistas, matou os planos políticos do PSDB, mas, destarte, reascendeu a extrema direita.

A extrema direita que, desde a queda do regime militar pós 64, estava na periferia da política, foi se restruturando, principalmente com o advento globalização e com as suas consequências; avanços significativos das mídias sociais, bem utilizadas por esses setores, mais conservadores; e os fatores principais para isso, foram dois, ao meu ver, quais sejam: o uso do capital, já que esses setores são oriundos das classes A e B, e do seu grau de conhecimento, favorecendo o uso e a divulgação de suas ideias políticas e ideológicas, de forma que acabou por atingir um eleitorado que, até então, se identificavam com as ideias de esquerda, tanto na classe B, como chegou as classes C, D e até na E, mesmo que alienadamente.

Destarte, as esquerdas foram ficando inertes, principalmente por ter ganho o poder com Lula em 2002. Ainda que o Lula de 2002, como dissera no início desse texto, não se considera mais um esquerdista radical e sim, um social liberal a lá Keynes. Dessa forma, Lula que já era maior que o PT, tornou-se imperador dentro do PT, de forma que, junto com ele, foi se estabelecendo uma "velharia" que inibe a renovação de quadros, de ideias, de paradigmas, chegando agora, a metade do trigissimo ano do século XXI, como um partido sem renovação, perdido na disputa política e ideológica e sem quadros com credibilidades nas disputas por virem.

Isso fica claro, quando o PT nacional interfere de forma provinciana nas disputas regionais, sempre em detrimento a dos novos quadros emergentes, como: Marília Arraes, em Pernambuco, Lisiane Lins, no Ceará, Robison Almeida, na Bahia, e etc.

Para a eleição deste ano, o PT, praticamente, não têm quadros competitivos nas maiorias das capitais e médias e grandes cidades importantes da federação.

A falta de quadros é gritante. Nem nos estados governados pelo partido, como na Bahia ou na Paraíba, ou até mesmo no Ceará, o partido consegue quadros competitivos. As renovações praticamente não existem; os espaços de disputa política e ideológica vem sendo captados pela extrema direita; perderam os espaços de discussão, disputas, nas instituições religiosas, educacionais e até sindical. 

Vamos ao caso de Montes Claros-MG. Aqui, o PT têm dois parlamentares eleitos Leninha na Assembleia Legislativa e Paulo Guedes na Câmara Federal. Este último, embora não seja filho nato da terra, têm uma história com a cidade de Montes Claros-MG que o credencia a fazer a disputa política local, mas, apesar de ser um parlamentar aguerrido, com muito trabalho realizado em todo o Norte Mineiro, não se apresenta, ainda, como um candidato competitivo para os montesclarense, em parte, por tudo que escrevi acima, e, em outra vibe, pelo fato de o PT local está passando pela mesma inércia do estadual e do nacional.

Nós militantes, formadores de opiniões, colaboradores diretos, não temos espaço de debate político ideológico idealizado pelo partido, não temos direcionamentos responsável das ações política, até mesmo os pré candidatos que se apresentam com história dentro do partido, são ouvidos, a priori.

Faltam pouco mais de seis meses para o pleito municipal, tudo está sendo levados com a "barriga", não há fórum de discussão sobre a política local, sobre os rumos que vão levar a pré campanha, do pré candidato do Partido Paulo Guedes; temos um prefeito com uma série de problemas gestacional, mas, com uma boa avaliação perante o eleitorado, pelo simples fatos de os gestores anteriores, terem sido piores que ele, o faz "herói" por tapar buraco nas ruas centrais da cidade, por asfaltar determinadas áreas urbanas, por construir viadutos e pontes, nas, destarte, se esqueceu da saúde, não há médicos nem para as crianças; educação está de mal a pior; esportes, os campos de várzea estão fazendo vergonha, não há política para a cultura; as praças públicas é só lixo e matos; os parques municipal só faz paliativos para enganar a população; falou para a cidade toda de que iria reformar literalmente a lagoa da Pampulha, só fez paliativo e agora anuncia construção de um estádio de futebol, sem resolver o básico de uma gestão municipal, que é cuidar primeiro de sua gente e da cidade.

Os parques municipal estão uma vergonha, o Milton Prates, assim como o Sapucaia só paliativo, a exceção é o Sagarana, pois, quem frequenta ê uma pequena elite local, o resto é uma vergonha.

Portanto, temos vários problemas que um candidato que se apresente em oposição ao atual, com propostas claras e exequível, poderá se apresentar ao eleitorado e transformar Montes Claros-MG em uma cidade bem melhor para se viver, visitar e contemplar.

Cabe, portanto, a Paulo Guedes e Délio que se apresentam como pré candidatos progressistas debater e apresentar um projeto exequível de verdade e que leve credibilidade ao eleitorado, como mudança de verdade, mas, para isso, não podemos esperar o processo eleitoral chegar, para se fazer este debate, pois, será tarde demais. 

Por esta causa, cabe a militância, os pré candidatos a vereadores, a prefeito, os intelectuais orgânicos do partido, fazeram a diferença e serem os olhos e ouvidos da população, pois, se assim não o for, a derrota da centro esquerda será inevitável.


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*Jeorge Luiz Cardozo é militante do PT, agente, professor universitário, especialista em políticas públicas e desenvolvimento local sustentável.

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