quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

SOBRE ADOLFO SÁNCHEZ VÁZQUEZ

por Atilio Boron


Em 1994, o cubano-alemão Raúl Fornet-Betancourt trouxe a público um grande ensaio que tinha por objetivo passar a limpo e em linhas gerais “O marxismo na América Latina”. Seguindo o caminho da marxologia, Fornet-Betancourt nos proporcionou uma visão panorâmica da recepção da teoria marxista em nossa América, estabelecendo as grandes fases do seu desenvolvimento entre nós. Desde o impacto do pensamento utópico e dos primeiros influxos do marxismo no século XIX até a revolução cubana de 1959, o autor se dedicou a assinalar os grandes pensadores do marxismo latino-americano e, para a fase pós-1959, resolveu destacar quatro grandes teóricos, dentre eles Adolfo Sánchez Vázquez.

Ernesto Che Guevara, Juan David García Bacca, Adolfo Sánchez Vázquez e Enrique Dussel são considerados, assim, do resgate criativo do marxismo na América Latina, na melhor tradição iniciada por Mariátegui, ainda na década de 1920. Depois do falecimento de “El Amauta” – o sábio, como ficaria conhecido o peruano José Carlos Mariátegui – o continente teria assistido a uma profunda estagnação do pensamento marxista e só viria a se renovar com o período quente das revoluções cubana e nicaragüense, para não falar no episódio chileno, a partir das quais se forjaria uma arejada e consistente produção teórica inspirada no pensamento de Marx.

Neste contexto, Sánchez Vázquez é uma figura ímpar. Tendo nascido em Cádiz, em 1915, literalmente vivenciaria a guerra civil espanhola, na qual cerrara fileiras contra o ditador Franco e, com a derrota das forças resistentes, se exilaria no México onde arquitetaria sua trajetória de intelectual crítico e engajado.

Justamente no correr da década de 1960 é que Sánchez Vázquez executaria uma virada crítica em sua interpretação marxista da realidade, guinada esta que culminaria com sua obra clássica, inclusive no Brasil, intitulada “Filosofia da práxis”. Contumaz crítico da “esclerose e dogmatismo” que o “movimento comunista mundial” seguia – como se refere nos prólogos deste seu livro –, sua tese central ficou assim esculpida: “o marxismo é, acima de tudo, uma filosofia da práxis e não uma nova práxis da filosofia”. Quer dizer, para ele, “a constituição do marxismo como ciência diante da ideologia ou da utopia é, certamente, fundamental, mas só se explica por seu caráter prático; isto é, só a partir da, na e pela práxis”.

Isto demonstra a força de seu pensamento, renovando sem trair, o espírito mais profundo das teses revolucionárias que Marx e Engels proporcionaram ao movimento dos trabalhadores para mudar, agora e mais que nunca, o mundo. A práxis é seu grande legado. Sánchez Vázquez, para consolidar tal herança, dialoga com os predecessores de Marx e seus continuadores: Hegel, Feuerbach e Lênin são os preferidos quanto ao problema da “práxis”.

No entanto, a tese central de sua obra maior também é um diálogo crítico com Althusser, a quem dedica mesmo um livro, chamado “Ciência e revolução”, e cujo resultado é encontrar “dois Althusser” e valorizar aquele que encontra na práxis a síntese histórica para o marxismo e seu caráter revolucionário.

Sánchez Vázquez, contudo, foi um ícone do marxismo latino-americano porque o abriu para a renovação e duas são as marcas deste arejo: a estética e a utopia. Dedicando-se à estética, em obras como “As idéias estéticas de Marx” ou “Convite à estética”, tomou-lhe o seu quinhão prático e o historicizou na vida dos homens. O belo, o sublime e o cômico, ou seus contrários, são reais, antes que ideais, ainda que ambos possam construir uma relação potente. Talvez aí resida sua conexão moral, desenvolvida pelo pensador em um livro dos mais divulgados no Brasil, “Ética”, em que caracteriza a especificidade deste campo.

Pelo lado da utopia, realizou pujante profecia: a utopia resiste e seu caráter socialista é um dever-ser para homens e mulheres que queiram construir um novo mundo. Dessa forma, a utopia socialista permanece “não só porque continua sendo necessária, desejável, possível e realizável, embora não inevitável, como também porque, dado seu conteúdo moral de justiça, dignidade, liberdade e igualdade, esta utopia – seja ou não no futuro – deve ser”. Este é o arrebatador fechamento do livro que compila vários de seus artigos e que recebeu o nome de “Entre a realidade e a utopia”.

Daí o resgate do “Valor do socialismo”, título de um de seus últimos livros publicados em português, que se reencaminha para o devir utópico, com a força criativa da realidade latino-americana, e que se apresenta como alternativa atual e necessidade histórica para superar a contínua barbárie do capital.

Eis que o falecimento de Adolfo Sánchez Vázquez, aos 95 anos, na manhã da sexta-feira, dia 08 de julho de 2011, deixa uma grande lacuna para o marxismo criativo e crítico do continente, porém é um depoimento histórico de que podemos, e devemos, seguir na construção de uma nova realidade social a partir de uma teoria irredenta, sensível e utopicamente possível!

* Ricardo Prestes Pazello é professor da Faculdade de Direito da UFPR; pesquisador na área de antropologia jurídica, direito e movimentos sociais e marxismo latino-americano; militante da Consulta Popular; colunista do blogue assessoriajuridicapopular.blogspot.com

WAGNER, A “NOVA CABEÇA BRANCA” DA BAHIA


Por Jeorge Cardozo*
   
     Vou começar esse texto com uma pergunta? Então vamos lá. O Governador Jaques Wagner está se achando a “nova cabeça branca” da política baiana, ou está subestimando os seus adversários, ou quer deixar tudo entre família, já que dizem por aí que a filha do governador está a namorar o prefeito almofadinha ACM-Neto, ou quer deixar a Bahia entre amigos, tendo Rui Costa como seu fiel escudeiro, desde as épocas de militância sindical, no Sindiquímica. Posso dizer que o governador embora tenha ganhado duas eleições de forma espetaculares, mas, quando se trata de eleger parceiros, deixa a desejar é só vermos o que aconteceu com Pelegrino. Entendemos que o seu governo tem realizado boas ações, principalmente na área social, estradas, desenvolvimentos locais, mobilidade urbana e etc., e, é duramente criticado nas áreas de segurança pública, educação, saúde (embora tenha inaugurado vários hospitais regionais, que, só resolve, a priori, os problemas emergenciais), ficando devendo, em muito, na área da saúde preventiva, que leva meses para se marcar um simples exame ou uma consulta, quando se trata de especialistas em todas as áreas.
     De forma resumida, voltando à questão da sucessão baiana de 2014, podemos dizer que o candidato mais preparado politicamente e tecnicamente dentro dos quadros petistas, é o senador Walter Pinheiro, esse tem um grupo político forte internamente no partido e tem desenvoltura a nível nacional para implementar no estado politicamente e administrativamente. Mais como é comum na política nacional e aqui na Bahia não é diferente, o governador Wagner quer um candidato com perfil mais técnico do que político, ou seja, o indicado administra e ele, Wagner, faz política, olhe Lula com Dilma, por exemplo.
     No entanto, no meu entendimento, Wagner está se achando o cara “esse cara sou eu”, ou melhor, dizendo, eu sou o novo “Cabeça branca” da Bahia, eu mando, o PT atende, pois, com Walter Pinheiro, as coisas não seriam bem assim, pois, sendo Ele o governador, obviamente, iria ouvir as experiências do ex., mas, no entanto, só seguir as suas ordens, longe disso, o senador tem personalidade e independência para tal.
     Destarte, Wagner continua a subestimar os seus adversários, ao que tudo indica, indicando o nome de Rui Costa que é quase desconhecido das massas, demonstra que a “nova cabeça branca”, está a confiar por demais no seu taco para elegê-lo governador. No entanto, Wagner está esquecendo que a oposição embora “moribunda” está a se recuperar e, saindo unida em torno de um nome com viabilidade eleitoral, poderá incomodar em muito, as pretensões do governador.
     Lembramos ainda, da candidatura da também senadora Lídice da Mata, trata-se de uma figura feminina e enigmática na política baiana, que, ao fazer palanque para a dupla Eduardo/Marina ou vice-versa, vai incomodar em muito, as pretensões dos petistas. Portanto, cuidado governador, ponhas as barbas e as madeixas brancas de molho, pois, o bicho não é tão manso como está a imaginar. Quem avisa amigo é.

-GLOBALIZAÇÃO E CULTURA



Por: Jeorge Cardozo*


A globalização é uma palavra que indica não que interpreta ou sintetiza, portanto, indica o problema, não a chave da sua interpretação. Sinaliza uma nova realidade da experiência vivida no final do século XX, indicando uma nova etapa e um novo quadro do processo de desenvolvimento das interdependências das nações mundiais, que, ao mesmo tempo, integra e polariza o sistema mundial, a impressionante aceleração da mobilidade e dos fluxos de pessoas, bens, capitais e símbolos, etapa e quadro que podem ser vistos em perspectiva e os passos anteriores na direção da internacionalização e da mundialização das relações entre as pessoas e o modo de produção.

Mas, é preciso não cair no rito usual da idéia de globalização, nos moldes colocados pelo sistema capitalista e, se criar um modelo contra hegemônica de globalização onde todos os sujeitos estejam inseridos, diferentemente, do modelo de globalização preconizado pelo poder hegemônico do capital. Portanto, é preciso problematizar, construir modelos de teorização, observação e análise suficientemente críticos para dar conta de análise mais aprofundada e extensa do modelo atual de globalização e das suas tendências teóricas atuais, que, escondem nas suas entrelinhas, as mazelas desse paradigma globalizante preconizado pela burguesia detentora dos conhecimentos teóricos implícitos na globalização.

Portanto, para se ter uma idéia mais profunda do fenômeno ora estudada que é a globalização, faz-se necessário, pluralizar buscando uma precaução do método, para não na tentação de uniformizarmos e reduzirmos “globalizações”: que são vários fatores, várias configurações, vários efeitos da mesma dinâmica, como propõem Appadurai (1990, 1996) que a interpretação sociológica seja considerada através da mediação dos “quadros”, ou como preconiza Boaventura Sousa Santos (1995), que seja através dos “espaços estruturais”, ou seja, domestico, do trabalho, do mercado, da comunidade, da cidadania e do espaço mundial, ou então, que é o que aqui se vai ensaiar de seguida, das especializações sociais que articulam formas de organização e interação social, principalmente nas cidades contemporâneas.

Explica ele, que o quadro de complexidade da cultura estudado por ele, torna clara a dificuldade, já anteriormente notada, de se definir uma visão coerente da expressão cultural das cidades, já revelada na precariedade das tentativas de estipular imagens consistentes que as promovam no plano da competitividade em que se encontram atualmente. Portanto, há hoje, uma hibridação ou crioulização das culturas, ou o anunciado o processo de lateralização subordinante ou de resistência de certas expressões culturais identitárias presentes na cidade, estávamos, na verdade, a definir um conjunto de possibilidades abertas pela relação local-global a iniciativas culturais dispersas, cujo sucesso depende em grande parte da capacidade de recombinação e cruzamento de elementos originários dos mais diversos domínios da atividade social, econômica, artística ou cultural num sentido mais estrito.

São nesse sentido de recombinação de elementos que iremos abordar amplamente as competências práticas de agentes determinados, as especialidades compostas de interação social e os modos de intervenção na cidade, deixando, a terminar, algumas questões acerca do lugar do espaço público e da sua eventual revitalização.

A plasticidade da realidade social e a multiplicidade e articulação de campos de ação e de referencias têm originado um sentimento generalizado de ambivalência e multiplicidade de valores e levado alguns analistas a falar em caos do tempo atual. O que está em jogo, nesta perspectiva, é a idéia de excesso de significados dados às coisas e dos lugares que contesta a estratégia modernista de classificação racional. Portanto, a alternativa tem sido a valorização da metáfora da hibridação (cruzamento de espécies diferentes) ou contaminação que assinala o surgimento de categorias compósitas (constituída por mais de um elemento), seja no domínio das identidades dos sujeitos, seja nas expressões artísticas ou literárias, ou nas próprias concepções do tempo e dos espaços. A metáfora da hibridação e da contaminação, cujas origens remotam à biologia do século XIX na visão de (Young, 1994), tem subjacente (subentendido) o principio da mobilidade dos atores envolvidos e da permissividade das fronteiras, bem como da fragilidade das classificações.

Destacamos, entretanto, as zonas de intermediação entre entidades e processos que parecem relevantes para uma reflexão sobre os reajustamentos sociais e culturais decorrentes da globalização e atuantes sobre os modos de organização da cultura urbana e a relação entre espaços públicos e privados.

Portanto, destacamos deste modo, quatro zonas de intermediação: as “terceiras culturas”, as “relações sociais de estranhamento”, a “domesticidade” e o “espaço de proximidade relacional”.

ZONA DE INTERMEDIAÇÃO: TERCEIRAS CULTURAS

Terceiras culturas são como território transnacional (além das fronteiras) de negociação e resolução de problemas surgidos com a globalização e o contacto interculturais. Como exemplo disso, podemos citar os profissionais do direito internacional ou do design, intelectuais e as próprias indústrias culturais de hoje são, em princípio, detentores de competências técnicas e profissionais especificas que lhes permitem viver “entre culturas” e estabelecer comunicação entre si através da retradução dos seus sentidos e significados.

ZONA DE INTERMEDIAÇÃO: RELAÇÕES SOCIAIS DE ESTRANHAMENTO TOLERÂNCIA.

A relação dos cosmopolitas (elementos de vários países, universal, internacional) e profissionais das terceiras culturas com as culturas locais e os seus atores. Apesar da sua tácita relação de mútua sobrevivência, o contacto entre uns e outros não é direto nem intimista. Diríamos mesmo que configura uma relação social de estranhamento. O que melhor caracteriza a relação social de estranhamento e o fato de não corresponder nem à relação típica de interconhecimento nem a de conflito. Daí que seja uma relação inscrita na ambigüidade e, logo, portanto, na indeterminação do seu desenrolar e desfecho.

ZONA DE INTERMEDIAÇÃO 3: DOMESTICIDADE E PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS.

Uma das linhas reequacionamento do lugar do espaço doméstico na estruturação das práticas culturais tem vindo a ser problematizada através do seu confronto com as chamadas práticas de saída, portanto, estas práticas de saídas não podem ser entendidas como práticas vazias de conteúdo e convocar atividades, significados e especialidades dos jovens, na formação de estilos de vida e na mediação de processos identitárias. Em vista da tendência para que a domesticidade reforce e faça cristalizar as hierarquias sociais, relacionadas com as disposições estéticas e os contextos de socialização, portanto, urge a necessidade de políticas culturais e educativas consistentes que promovam a democratização cultural no Sul.

ZONA DE INTERMEDIAÇÃO 4: ESPAÇO SOCIAL DE PROXIMIDADE RELACIONAL

Sobre as falências das designações nominalistas dos espaços, vale à pena enunciar apenas outras duas situações que problematizam o valor heurístico (alegria por um achado ou descoberta) da dicotomia (divisão em dois) público-privado.

A primeira situação dessa dicotomia anuncia o modo como os significados da cidade e da cultura urbana mobilizam o corpo e a capacidade cognitiva e sensorial dos sujeitos, inviabilizando o sentido material das fronteiras entre o que são público e o que é privado. Exemplificando, as chamadas paisagens sonoras, olfativas ou visuais das cidades podem permitir aos sujeitos experimentarem a cena pública urbana a partir do seu mais recatado isolamento, ou, inversamente, podem invadir e intrometer-se no seu espaço pessoal e privado de modo irrestrito.

A segunda situação põe em evidencia o modo como ações materiais concretas podem alterar o significado simbólico dos espaços, interpelando de novo a sua distinção. Exemplificando, o parque ou jardim “público” que é temporariamente ocupado por cerimoniais ou festividades privadas, ou a esplanada que se instala no passeio público, ou o recanto protegido da rua onde o sem-abrigo dorme ou cozinham, da mesma maneira que, ao invés, o centro comercial é acessível a (quase) todos, são situações em que o público é privatizado e o privado se torna público ou quase público.

CONCLUSÃO

Como conclusão, retomamos as idéias de Rousseau e a sua perplexidade sobre o lugar das artes performativas na cultura urbana das pequenas cidades. Ao chegarmos ao fim deste texto, o seu receio parece-nos de grande atualidade por obrigar a refletir sobre o significado das práticas culturais nas cidades contemporâneas, qualquer que seja a sua dimensão. Os efeitos da globalização e do mercado sobre as condições de produção, circulação e consumo dos bens e serviços culturais, ao mesmo tempo em que nos põem perante cenários totalmente diversos daqueles sobre que Rousseau refletia, atualizam a sua preocupação acerca do desvirtuamento das cultuaras Locais e do sentido de lugar de Genebra, feito às mãos dos influentes programas culturais de Paris.

-AS MASSAS, A POLITICA E O POLITICO.




Por Jeorge Luiz Cardozo

Mas como se põe o povo em relação à política e o político nos dias de hoje? Há crenças no político e na política atualmente? Essas perguntas representam uma posição embaraçosa. Por força da tradição, a política e o político ‘e palidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo pela maioria da população brasileira. A opinião corrente ‘e de que a política e o político nada fazem e carece de qualquer utilidade prática. ‘E escachada em público, mas, existirão realmente fundamentos nessas analises? A incapacidade técnica e moral de grande parte dos políticos merecem tal descrença.       
A descrença se traduz no fato de que a cultura política delineada em nossa sociedade ‘e de que, os políticos, na sua maioria, na fazem nada, só compram votos, e, depois, eleitos, só fazem roubarem. Destarte, a população mais carente (que são a maioria), não a compreende; diz que está além do seu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale dizer: ‘e inútil o interesse pelas questões fundamentais da política; cabe as massas absterem-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capitulo qualquer de atividade prática ou intelectual o que seja a política e o papel do político; quanto às minorias, abastadas, essas dominadoras do capital e, portanto, detentoras dos meios ideológicos de dominação fomentam essa idéia de que política ‘e coisa de poucos, especialmente, de quem tem capital.
A polêmica torna-se encarniçada, por um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a política e o político, mas, no entanto, na hora H, fazem campanhas ferrenhas pra seus candidatos, geralmente, em troca de pagamento, ou, deslumbrando uma possibilidade de emprego.
Essa idéia ‘e perigosa. Se o povo a compreendessem tal teoria, adquiriam outro estado de espírito, veriam a política e o político, como sujeitos que são pagos para cuidar da coisa pública, e, não negociadores de votos e de cargos.  
‘E dessa má crença, que surgem os detratores que desejam afirmar que todo político não presta e são ladrões. Portanto, ‘e preciso substituir essa velha fórmula de se fazer política, por algo novo e totalmente diverso. Ela, a política e o político são desprezados como produto final e mendaz de uma cultura falida. A insensatez das preposições do povo e, até mesmo, dos políticos, ‘e ironizada. E a política vê-se denunciada como instrumento servil de poderes e ostentações para poucos.
Muitos políticos vêem facilitando seu nefasto trabalho pela ausência de uma cultura ética e moral inclusiva. Massas são manipuladas quando não pensam, mas tão-somente usam de uma inteligência de rebanho. ‘E preciso impedir que as massas se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a política e o político sejam vistos como algo entediante, longe do alcance das maiorias, para que, essas minorias abastadas, se apossem do poder, criando essa idéia de distancia entre os “cidadãos” e o poder político e econômico vigente.
Assim, a política e o povo se verem rodeado de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A autocomplacência burguesa, os convencionalismos, os hábitos de vender e comprar votos dá a política e o político o “status” de autodistante das massas.
Embora pareça crer que todos os políticos são corruptos, essa ‘e uma premissa falsa. Temos como poucos exemplos de nomes na política que, historicamente são honestos e, aqui tomamos a audácia de citar alguns nomes: Eduardo Suplicy, Pedro Simon, Waldir Pires, Ivan Valente, Heloisa Helena, entre outros menos conhecidos que, até que se prove ao contrario, são honestos.
O que precisamos então, ‘e de educar melhor o povo, partindo pelos próprios educadores que, no nosso dia a dia, são os primeiros a se utilizarem da má fé no processo eleitoral, apóiam candidatos em troca de angariar futuros cargos e, até mesmo, buscar promoções. Eis ai, uma das causas da grande descrença das massas na política e no político, a péssima qualidade da educação.


DIVISSÃO SOCIAL DO TRABALHO

Por Jeorge Cardozo

A divisão social do trabalho é o modo como se distribui o trabalho nas diferentes sociedades ou estruturas socioeconômicas e que surge quando grupos de produtores realizam atividades específicas em consequência do avanço dum certo grau de desenvolvimento das forças produtivas e de organização interna das comunidades. Com a determinação de funções para 
as formas variadas e múltiplas do trabalho constituem-se grupos sociais que se diferenciam de acordo com a sua implantação no processo de produção. Tais grupos correspondem ao estatuto que adquirem dentro da sociedade e ao trabalho que executam.
Numa fase inicial, a divisão do trabalho limitava-se a uma distribuição de tarefas entre homens e mulheres ou entre adultos, anciãos ou crianças, em virtude da força física, das necessidades ou do acaso, sem que tal conduzisse ao aparecimento de grupos especializados de pessoas com os seus próprios interesses ou características, não originando, portanto diferenças de natureza social.
O desenvolvimento da agricultura originou profundas divisões sociais no trabalho. Os arroteamentos florestais, os grandes saneamentos de zonas pantanosas, a introdução de pesados instrumentos agrícolas, a lavra da terra com a ajuda de animais de tração, tornaram-se trabalhos demasiado pesados que acentuassem uma separação de atividades entre homens e mulheres, com a concomitante passagem do matriarcado ao patriarcado.
Esta mudança abriu uma brecha na organização gentílica e refletiu na posse dos bens materiais. A família adquiriu a característica de uma unidade de produção e de transmissão hereditária de bens, entretanto acumulados. A divisão social do trabalho entre os sexos tornou-se muito nítida. Os trabalhos domésticos foram-se transformando em ofícios especializados e as mulheres, sobretudo a partir da introdução do arado, terão deixado o trabalho agrícola mais pesado e dedicado mais à horticultura, á recolha de frutos e plantas comestíveis, criação de animas doméstico, à fiação, tecelagem e olaria, atividades concretizadas em áreas muito próximas dos próprios locais de residência. As mulheres ficaram assim excluídas duma participação ativa na vida social e política, situação que ocorreu em todas as civilizações. Não gozavam de qualquer dos privilégios políticos conferidos pela cidadania, não participando em assembléia  na magistratura ou em qualquer posição social comparável. É claro que havia diferenças entre as mulheres escravas, as mulheres de homens livres ou as de membros de nível elevado da sociedade. Mas, mesmo nestes casos, em que as mulheres nada produziam e gozavam de condições materiais excelentes na sua vida quotidiana, a sua existência desenrolava-se meramente num contexto dum sistema de vida patriarcal.
As tribos que povoavam territórios dotados de ricas pastagens tendem a abandonar a agricultura e a dedicar-se à criação intensiva de animais, originando a formação de comunidades nômades. À medida que se desenvolve a atividade agrária, destacam-se as tribos com atividades exclusivamente pastoris. Esta separação contribuiu para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criou as premissas materiais para o aparecimento da propriedade privada.
A ocupação de todo o tempo de alguns indivíduos na atividade agrícola impede que se dediquem simultaneamente a produzir os instrumentos e os artefatos que lhes são necessários. O uso de novos instrumentos de trabalho mais aperfeiçoados e complexos determina uma especialização que contribuiu para o aparecimento dos artesãos, indivíduos dedicados exclusivamente ao seu fabrico e manutenção. Surgem assim artífices independentes que ocupam a totalidade do seu tempo na criação desses meios de produção, que depois terão de trocar por gêneros alimentícios. O desenvolvimento destas atividades especializadas culmina na separação entre o artesanato e a agricultura, que conduziu à intensificação das trocas diretas internas e, posteriormente, das trocas indiretas através do mercado e, por fim, ao aparecimento da atividade mercantil. Esta especialização do trabalho tende a alargar-se à pesca. O papel dos agricultores-pescadores tende a diminuir para aumentar o de profissionais voltados exclusivamente para esta faina, quer na água doce, quer no mar.
À medida que aparecem profissões diversificadas, acontece que os indivíduos mais concentrados num determinado tipo de atividade têm de recorrer à troca daquilo que produzem pelos objetos que eles próprios não produzem, mas de que precisam a fim de satisfazer as suas necessidades profissionais, além das individuais ou familiares. A intensificação do intercâmbio entre estes grupos de produtores especializados, a formação de excedentes e a entrega de tributos em dinheiro às classes com um estatuto dominante, ampliou a necessidade de produzir artigos destinados à troca, dando lugar à produção com um propósito mercantil e à formação duma classe de mercadores.
A divisão do trabalho desencadeada pelo incremento da atividade comercial, ligada à ampliação das aditividades transformadoras e da navegação, deslocou o centro dos interesses econômicos do interior para o litoral. Ao lado da divisão entre agricultores, artesãos e mercadores, passou a existir outra, entre trabalhadores rurais e citadinos, que corresponde, total ou parcialmente, à oposição entre o campo e a cidade. Na estrutura urbana observa-se uma distinção entre sectores comerciais, administrativos, culturais, transportadores, artesanais e até agrícolas, fenômeno com menor relevância nos meios rurais.
A divisão social do trabalho manifesta-se também entre trabalho mental e material. O processo geral alcançado a nível bastante elevado de separação entre o trabalho intelectual e o trabalho físico, levou ao surgimento duma elite que escapava ao quadro dos interesses dos diferentes estados.
As distintas fases de desenvolvimento da divisão social do trabalho contribuíram para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criar as premissas materiais para o aparecimento da propriedade do solo, da apropriação dos meios e dos produtos do trabalho. Contribuiu igualmente para tornar mais consistente a existência de sociedades baseadas na divisão entre classes dominantes e classes subordinadas.
Sob o capitalismo, a produção especializa-se e tem como objetivo exclusivo a obtenção de lucro. A divisão social do trabalho desenvolve-se espontaneamente, com o avanço desigual dos diferentes ramos de produção, acompanhado duma luta constante competitiva e duma desordem e dissipação do trabalho social. Os limites das economias nacionais são ultrapassados pelo desenvolvimento do comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão internacional de trabalho.

- De renúncias e tradições – a propósito de Maria da Conceição Tavares

Por Professor Cardozo*


A influência de Maria da Conceição Tavares na formação de parte dos economistas brasileiros é compreensível. Em uma profissão marcada pela falta de originalidade, carreira em que os estudantes são obrigados por semestres a fio à leitura de manuais estadunidenses de duvidosa qualidade intelectual, Conceição Tavares foi durante anos a voz da indignação contra o "papagaísmo", ou seja, este estranho hábito de divulgar no Brasil as "teorias" emanadas dos centros metropolitanos a despeito das sandices ou das hipóteses convencionais e falsas que são divulgadas como se fossem verdades científicas. Além disso, numa profissão marcada pela astúcia e o "bom mocismo" interesseiro, Conceição Tavares tinha – e mantém – um "temperamento" absolutamente indispensável tanto na política quanto na lúgubre academia. Todos nós sabemos que apesar da pompa com que é anunciada e repetida pelos meios de comunicação, a maior parte das hipóteses difundidas pelos economistas no país está destinada apenas e tão somente a justificação do subdesenvolvimento em nome de um futuro que jamais chegará. Maria da Conceição Tavares, matemática de formação, professora de várias gerações de economistas, figurou voz destoante, especialmente durante os anos da oposição progressista à ditadura. É justificável que tenha o reconhecimento que muitos, com freqüência, expressam; mas este reconhecimento não a torna, obviamente, imune a graves erros.

O ambiente atual no Brasil é um cenário excelente para os apologéticos de sempre. Há, de fato, um otimismo ingênuo muito propício para que os economistas convencionais sigam repetindo as consignas que retiram dos manuais de micro e macroeconomia sem ruborizar-se. Estes economistas ignoram o fato de que em todos os demais países do mundo, o pensamento dominante, ou seja, a neoclássico, recebeu um duro golpe com a erupção da crise capitalista em setembro de 2008. Incapaz de prever a crise mundial do capitalismo e atônita diante de seu desenrolar, os economistas neoclássicos se limitam a repetir suas verdades eternas ou simplesmente fazem de conta que não possuem responsabilidades sobre a crise global que queima riqueza e gera crescente desigualdade social. Mas não nos enganemos: a despeito da catástrofe, ainda estamos longe de um acerto de contas teórico e político com o pensamento dominante. A crise mundial, é verdade, não arrefeceu minimamente as convicções dos neoclássicos embora tenha vitalizado antigas ilusões keynesianas que em grande medida também alimentam o otimismo ingênuo sobre as possibilidades brasileiras na economia mundial.

Neste contexto, não deixa de ser uma surpresa a declaração recente de Conceição Tavares sobre as possibilidades do Brasil: "não tem centro e periferia como antes. Há países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos." Para aqueles que não perderam a memória, percebe-se logo que se trata de uma ruptura com um dos pilares de sua formação, especialmente quando é anunciado por uma economista que sempre rendeu merecido tributo ao economista chileno Aníbal Pinto, um dos ícones do estruturalismo cepalino na América Latina. Na mesma linha e ainda com mais ousadia, Conceição Tavares chama atenção de todos nós para outra novidade que julgo ainda mais importante: "você não pode deixar de levar em conta que mudou a divisão internacional do trabalho. Paradoxalmente, não vejo muita gente mencionar isso. Houve uma mudança radical da divisão internacional do trabalho, na qual nós estamos bem colocados porque a gente exporta para todo mundo. E, em particular, no que diz respeito a matérias-primas, exportamos mais para a China do que para a Europa, por exemplo. Nunca exportamos matérias-primas para os EUA" (Folha de São Paulo, 12/09/2010). O Brasil está realmente bem colocado nesta mudança radical na divisão internacional do trabalho?

A elaboração teórica do chamado "sistema centro-periferia" foi uma das principais conquistas do pensamento cepalino na América Latina. Na prática, significou colocar por terra as teses ricardianas do famoso capítulo VII dos Princípios de Economia Política e Tributação, mais tarde resgatadas convenientemente pelos economistas universitários sob a mistificação da denominada "teoria das vantagens comparativas". De fato, a original contribuição do economista argentino Raul Prebisch sobre a "deterioração dos termos de troca" representou um passo adiante do pensamento crítico sob a apologética dos economistas da ordem que repetiam na periferia capitalista a mencionada "teoria da vantagem comparativa", destinada a consagrar a posição dos países latino-americanos na economia mundial como meros exportadores de matérias-primas e produtos agrícolas.

Contudo, se Prebisch foi brilhante na identificação do fenômeno constatando a diferença entre os preços dos produtos que a América Latina importava e a tendência de baixa dos produtos que exportava, seu esforço intelectual foi insuficiente na explicação do problema e apenas convencional na solução: a industrialização da periferia terminaria por fechar a brecha entre os preços, acreditava. Os marxistas latino-americanos descobriram logo que a saída cepalina era não somente falsa, mas, sobretudo, que terminaria por também contribuir para a justificação do subdesenvolvimento em que ainda estamos afundados. Foi neste terreno que surgiu a "teoria do intercâmbio desigual", em que André Gunder Frank (1964), Ruy Mauro Marini (1968), Arghiri Emannuel (1968) revelaram originalmente que a industrialização não seria capaz de tirar os países latino-americanos do subdesenvolvimento e da dependência. Mesmo assim, é preciso recordar que antes deles, um desconhecido polaco, membro da Escola de Frankfurt, "economista" entre filósofos, escreveu importante livro em 1929 em que o tema do intercambio desigual aparecia magistralmente estabelecido na tradição marxiana: La ley de la acumulación y el derrumbe del sistema capitalista, lamentavelmente sem tradução ao brasileiro.

A questão fundamental na formação intelectual do economista latino-americano residia neste ponto crucial, onde os críticos (marxistas ou não) indicavam o caráter polarizante do capitalismo, inexoravelmente dividido entre um centro desenvolvido e uma vasta periferia cuja característica fundamental era o nível de pobreza de sua população. O pensamento crítico buscava, obviamente, amparo em Marx e Engels. Foi Marx, ainda em 1848, quem se burlou dos defensores da ideologia do livre comércio afirmando que "se os defensores do livre comércio são incapazes de compreender como pode um país enriquecer-se a custa de outro, não necessitamos nos assombrar-nos de que os mesmos senhores compreendam ainda menos que, dentro de um país, uma classe se enriqueça a custa de outra." Seu inseparável amigo Engels também tocou no assunto muitos anos depois, quando Marx já não existia (1888); criticando a força ainda mais intensa da ideologia do livre comércio sob impulso do imperialismo inglês, Engels escreveu que "a consigna era, agora, o livre comércio. A tarefa imediata dos fabricantes ingleses e de seus porta-vozes, os economistas, era difundir a fé no evangelho do livre-comércio e criar um mundo em que a Inglaterra fosse o centro industrial e os demais uma periferia agrícola dependente" (Cursivas minhas, NDO).

Desde então, a crítica entre os economistas latino-americanos se dividiu: de um lado aqueles que, seguindo a tradição cepalina, indicavam a industrialização como o único caminho para superar a indesejável polarização existente no sistema capitalista. No Brasil, Celso Furtado foi indiscutivelmente o mais criativo e insistente defensor desta perspectiva (Brasil, construção interrompida, 1992). De outro lado, os marxistas indicavam que a dependência e o subdesenvolvimento somente poderiam ser superados com a revolução socialista e a ruptura com o sistema capitalista. Eram, em grande medida, alternativas radicalmente distintas, ainda que muitos observadores identificassem certas coincidências entre as opções.

Este "programa de pesquisa" está esgotado, foi superado pela realidade? Ignoravam os críticos do passado a possibilidade de uma "mudança radical na divisão internacional do trabalho" como anuncia agora Conceição Tavares? Definitivamente não! No posfácio (1971) à sua importante obra, La acumulación a escala mundial. Crítica a teoria del subdesarrollo, o egípcio Samir Amim reconhecia explicitamente os méritos do debate iniciado na América Latina e perguntava: o sistema mundial "caminha em direção à dicotomia cada vez mais crescente entre centro-periferia? Ou não é mais que uma etapa da evolução do sistema, e neste caso tende em direção a uma sorte de formação capitalista mundial homogênea?". Nos termos atuais: a existência de uma suposta "semi-periferia" teria dado por concluída a antiga polarização centro-periferia?

O sistema centro-periferia pode admitir a existência de um país "semi-periférico"? Esta hipótese tampouco é rigorosamente nova; foi aventada insistentemente por Immanuel Wallerstein, mas ele próprio tem consciência da dificuldade ou, creio, debilidade do conceito. Na sua obra, O moderno sistema mundial, Wallerstein (1980) indica que o elemento constante no que denomina "economia-mundo capitalista" é a divisão hierárquica do trabalho, na qual existe uma igualmente "constante variável localização da atividade econômica". O caso historicamente relevante para a "análise do sistema-mundo" é o sueco, no século XVII, que segundo esta interpretação logrou sair da periferia sistêmica e acomodar-se à condição razoavelmente confortável de semi-periferia. Contudo, as condições suecas eram reconhecidamente excepcionais e de impossível generalização para todo o sistema, especialmente para os países latino-americanos. Ademais, enquanto Suécia praticou o mercantilismo para sair da periferia, as classes dominantes dos países latino-americanos se curvam diante da lei do valor apostando na "liberalização". Finalmente, nunca é demais recordar: a Suécia é um país europeu, ou seja, situado no centro da "economia-mundo".

Muitos anos após a publicação de sua trilogia iniciada em 1974, é o mesmo Wallerstein quem em entrevista realizada em 1999 reconhece que as condições necessárias para um país avançar em direção à semi-periferia – conceito que incluiria tanto o Brasil quanto o México e, talvez mais surpreendente, a China! – são muitas e não são fáceis. Na mesma oportunidade Wallerstein indica que "dentro da lógica do sistema" e para manter a condição de semi-periferia o Brasil teria que investir recursos significativos no âmbito militar e, claro, assegurar, durante décadas, superioridade na produção de mercadorias em relação aos seus competidores. É claro que os defensores desta linha de interpretação podem também alegar aos que insistem na dicotomia centro-periferia que acomodar Brasil e Honduras como "países periféricos" tampouco oferece a precisão conceitual necessária para captar a especificidade brasileira, posto que o "gigante do sul" possui extraordinárias vantagens em relação ao pequeno país centro-americano na economia mundial. Como estabelecer uma linha divisória mais sólida?

Os marxistas identificaram o ponto decisivo do sistema centro-periferia: a transferência de valor. Ao longo da história do capitalismo se pôde observar que a característica essencial do sistema é a reprodução da desigualdade que impede qualquer desejo de homogeneização no capitalismo. A ruralizarão da indústria no interior do país, o deslocamento de atividades produtivas sob controle das empresas multinacionais para a zona periférica são exemplos de mecanismos que foram essenciais para o processo ininterrupto de acumulação. São movimentos necessários para manter a troca desigual. Até mesmo Wallerstein reconheceu que embora a troca desigual represente uma prática antiga, somente quinhentos anos após a consolidação do que ele denomina "capitalismo histórico" foi desvelada de forma sistemática pelos oponentes do sistema.

Foi o pensamento crítico latino-americano o responsável por esta conquista teórica, indiscutivelmente. Em termos marxianos: a transferência de valor mantém a vitalidade do sistema, para a qual requer não somente deslocamentos espaciais da produção, mas, sobretudo, níveis elevados de exploração da força de trabalho e, especialmente, a super-exploração da força de trabalho. É aqui que Honduras e Brasil se encontram. Enfim, o esforço para captar a especificidade de um país qualquer ou os movimentos inerentes a acumulação mundializada não pode ignorar a lógica totalizante inerente ao sistema capitalista.

A possibilidade de uma nova configuração da divisão internacional de trabalho é também uma novidade como anuncia Conceição Tavares? Está efetivamente ocorrendo? O Brasil está "bem colocado" nesta nova situação?

O tema tampouco é novo se recordamos um texto não tão antigo de Ruy Mauro Marini (2000), publicado logo após seu precoce desaparecimento. Marini reflexiona sobre as tendências da chamada globalização, indicando a possibilidade ou o projeto de uma nova divisão internacional do trabalho aberta pela plena vigência da lei do valor em escala planetária. O texto escrito na década de noventa, se insurgia contra a hegemonia então absoluta do "neoliberalismo" na América Latina, e indicava que os países centrais apostavam na nova reconfiguração da divisão internacional de trabalho necessária para aproveitar duas vantagens estratégicas que possuíam na economia mundial. A primeira vantagem decorria da "superioridade em matéria de pesquisa e desenvolvimento" em que as potências exercem o monopólio tecnológico. A segunda estaria dada pelo controle que os países centrais possuem no processo de transferência das atividades industriais para a periferia capitalista, especialmente aquelas menos intensivas em conhecimento. Em qualquer caso, afirmou Marini, o concerto estaria construído de tal forma que as economias nacionais periféricas não lograriam jamais a condição de uma economia nacional integrada.

É fácil supor que nem mesmo o mais otimista dos economistas brasileiros se atreveria a afirmar que estamos caminhando na direção de uma economia nacionalmente integrada, capaz de sair da periferia.

Esta é a razão pela qual verificamos o elogio à economia exportadora, tão recorrente mesmo entre economistas de boa formação. Assim como a economia política inglesa sabe desde William Petty que um país pode exportar muito e empobrecer, o pensamento crítico sabe que um país pode destinar suas exportações para muitos países e não mudar um milímetro sua posição na divisão internacional do trabalho. O fato de o Brasil destinar aos Estados Unidos apenas uma parte pequena de suas exportações não muda em absolutamente nada a posição do país na adversa divisão internacional do trabalho. De fato, o Brasil exporta produtos agrícolas e minerais para muitos países do mundo sem que supere o subdesenvolvimento e a dependência; ao contrário, se pode afirmar que esta é uma das razões pelas quais seguimos no atoleiro do subdesenvolvimento.

Portanto, a existência de países de "desenvolvimento intermediário", situação na qual o Brasil – segundo a opinião de Conceição Tavares – ocuparia, não figura precisamente como novidade histórica e/ou teórica. Porém, anunciado fora de uma explicação totalizante (sistema centro-periferia), pode parecer simples apologia do subdesenvolvimento e tentativa de dar legitimidade teórica (base científica) para o otimismo ingênuo que segue inibindo a reflexão crítica necessária para mudar radicalmente o país. Após a grande crise mundial de setembro de 2008, ocorreu importante mudança na correlação de forças em escala planetária, que permite reformas mais avançadas em favor das classes subalternas, inclusive no Brasil. Mas para aqueles que pensam de outra maneira – que as condições políticas para lutas mais avançadas não existem – o que ganharemos com a renúncia no terreno teórico?

É sedutor – e talvez parte do otimismo que se abateu sobre o Brasil – pensar como José Luis Fiori, para quem estamos vivendo momentos de uma "revolução intelectual", em que "algumas idéias e teorias de esquerda e direita... já não dão conta das transformações do continente" latino-americano (Valor, 29/09/2010). No que se refere à esquerda, quiçá seria então necessário admitir que a antiga concepção centro-periferia foi finalmente superada pela realidade, pelo menos para nós, brasileiros. Neste acaso, também é necessário reconhecer que não há originalidade no movimento. Enfim, no propósito de legitimar um dos bandos na luta política eleitoral (conjuntural) que o país atravessa, cada um dirá, com forma própria e no tempo adequado, um brado já conhecido: "esqueçam o que escrevi".

- CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO




Há uma Ciência Planetária para o desenvolvimento material e imaterial de qualidade: estrutura e dinâmica dos saberem locais e os saberes globais.                        

                                                                                                               Paolo Orefice*


Tradução: Jeorge Luiz Cardozo**


RESUMO

Este ensaio pretende contribuir e responder a estas importantes perguntas: que investigação se necessita para o desenvolvimento? Que desenvolvimento se necessita para a investigação? De resto, o tipo de desenvolvimento de uma sociedade está diretamente relacionado com o tipo de saberes que este legitima, mantém e utiliza; destarte, estes saberes tem a capacidade de estruturar e orientar o desenvolvimento de certa sociedade em uma direção determinada. Na época histórica atual o desenvolvimento das sociedades se encontra suspenso entre os distintos saberes tradicionais e os saberes globais uniformes alimentados pelos conhecimentos científicos e tecnológicos dominantes. Pela crise da racionalidade cientifica moderna que sem duvida tem desempenhado uma função histórica fundamental, está afetando também a racionalidade e a concepção de desenvolvimento que ela mesma fomenta: uma racionalidade segmentada e auto referencial, neo ilustrada e neopositivista, que, trás saber elaborado em uma concepção de progresso como desenvolvimento linear e quantitativo das sociedades industrial do Norte e exportado para os países do Sul, resulta ser parcial e nada natural, e que segue a ética da primazia do primeiro mundo sobre os demais, incluindo a natureza. O eixo histórico contemporâneo consiste em haver erraigado, a escala mundial, uma epistemologia sustentada pela ciência e desenvolvimento alimentados por uma racionalidade complexa, auto-corretiva e empática, em que os saberes locais e os saberes globais se fundam em áreas do desenvolvimento material e imaterial de qualidade.

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*Coordenador Internacional do Projeto Interlinkplus. Catedrático de Pedagogia Social, Departamento de Ciências da Educação, Universidade de Florença, Via Parione, 11B, 50123 Florença, Itália. E-mail: orefice@unifi.it

**Professor Mestre da Faculdade Dom Luiz/Dom Pedro II, Assessor Técnico da Secretaria Municipal da Educação de Salvador. Correspondência, Rua: Jornalista Maria da Ajuda Medeiros, 150, apto. 201, São Rafael – SSA/BA. E-mail: Jcardozo2009.1@gmail.com Blog:http://professorcardozodeputadofderal5013.blogspot.com/

1. CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO: QUE RELAÇÃO MANTÉM?

Minha conferência gira em torno da seguinte interrogação, que constitui um dos problemas que mais preocupa os que dedicam à investigação cientifica e o desenvolvimento nos países tanto do Norte como do Sul: Que investigação se necessita para o desenvolvimento? Que desenvolvimento se necessita para a investigação?

A experiência do trabalho internacional, tanto na Europa como na América Latina, assim como em outros continentes, no planeta constantemente fazem esta pergunta: cremos que a contribuição cientifica é fundamental para realizar programas avançados de melhoramentos das condições de vida das populações e para proteger os bens da natureza e das culturas.

Por suposto, nos cremos que a contribuição cientifica seria a preocupação de todos os problemas. Sabemos que há fatores que vão muito mais da possibilidade da ciência: os fatores culturais, políticos, sociais e econômicos podem determinar o fracasso de um programa de desenvolvimento cientificamente perfeito.

Se os embargos, os fracassos, as deficiências, as limitações de muitos programas de concepções de desenvolvimento não altera o caráter atual e problemático da questão: A concepção cientifica subjacente de muitos programas de desenvolvimento, mas fora dos fatores concorrentes e capazes de ativar os processos de melhoramento e de proteção? Também nos perguntamos: não poderia ser também que essa mesma concepção cientifica das disciplinas que conflui o desenvolvimento se além, implícita e explicitamente, com os fatores que freia e distorce o melhoramento da vida da gente e dos contextos em que esta transcorre sua existência? De forma mais explicita: é possível que a concepção mesma de desenvolvimento adaptado pela investigação cientifica no resultado benéfico para o homem e seus entorno?

É legítimo que se plante esta pergunta todo aquele que, como a investigação universitária, funda seu trabalho de investigação e o critério obrigado de avanço da ciência na dúvida metódica. Creio também existir um motivo muito mais prático e no plano menos importante, que a ilusão da função social do ensino universitário: posto que a formação dos profissionais do desenvolvimento passe por estudos universitários, é indispensável perguntar que concepção de desenvolvimento humano e territorial é tomada como referencia ao ensino universitário. Este problema tem um grande alcance, porque questionam o tipo de formação universitária confirmada os títulos de estudo, dos quais, por sua vez, legitima determinados tipos de ontologia profissional. Por conseguinte, a questão nos afeta solenemente as profissões especializadas em desenvolvimento, sentem as profissões intelectualizadas como Tales.

Não se caia no erro de pensar que a relação entre ciência e sociedade, subjacente a relação ciência - desenvolvimento é algo que interessa só aos países do Sul: Não é uma questão crucial que interessa a investigação e a formação das universidades de todos os continentes. Basta citar, um só para mencionar a perspectiva da União Européia, que no VII Programa Marco de Investigação Comunitária, a relação entre ciência e sociedade se considera fundamental o espaço europeu de conhecimento mais avançado “para o crescimento econômico, bem estar e meio ambiente”.

2. CONHECIMENTO E DESENVOLVIMENTO: UMA RELAÇÃO INSEPARÁVEL.

Para analisar o problema ainda falta declarar desde o princípio que toda ação de desenvolvimento local, nacional, transnacional, independentemente dos objetivos que se marca, baseia-se nos conhecimentos dos atores que a realizam.

Resulta evidentemente que, se observarmos como se desenvolve a vida em uma Aldeia Esquimó tradicional – as formas de vida estão concebidas para suportar as altas temperaturas, as vestes servem para proteger do frio intenso, a alimentação é à base de gorduras, a economia se concentra na caça e na pesca para produzir a energia necessária para a comunidade local. Cito somente os exemplos mais ilustrativos não se pode decidir que este sistema já nascido e se consolidado por causalidade, sendo este, fruto de idéias, conhecimento, saberes, reflexão, que tinha sido selecionados e transmitidos de geração em geração e eixo micro social. Da mesma maneira, se observarmos uma grande cidade industrial, nos daremos conta de que os raciocínios são capazes de alargar em pouco espaço uma enorme quantidade de oficinas e vivências, as fábricas possuem uma maquinaria potente controlada por computadores sofisticados, a rede de metrô translada a grande velocidade circulando de um lado a outro da cidade, os pontos estão abarrotados de transeuntes, com supermercados e auto - serviço de todo tipo, que nos indicam que o modo de viver e de produzir é possível e segue sendo porque a sociedade que eu creio e a agente que utiliza os serviços de um patrimônio de conhecimento, que foi que deu origem a este modo de viver e de que é permitido seguir existindo.

Com estes exemplos é possível defender os postulados seguintes:

1 – O modo de ser das sociedades e o modo de viver da gente não são frutos da causalidade, independentemente das gerações que havia adaptado este modo de viver e o siga adaptando, sendo que as tradições em termos de cultura material e imaterial, de todos os saberes legitimados e tolerados dentro da mesma sociedade.

2 – A origem de um determinado assentamento humano se deve a determinadas formas de conhecimento humano, que resulta indispensável para sua conservação e para qualquer troca em seu interior.

3 – Os conhecimentos que sejam possíveis à manutenção e também a troca de um sistema de vida em um território determinado não são sempre os mesmos e se distribui de forma distinta em um tempo e no espaço.

Retomando os exemplos anteriores, resulta fácil entender que os conhecimentos usados em uma aldeia esquimó são próprios de uma cultura tradicional local, meninas que em uma cidade industrial se usam os conhecimentos da cultura cientifica e tecnológica, que se impôs a importar na Europa na época moderna.

4 - O tipo de sociedade e o tipo de vida de uma população expressam a forma, os modos, os êxitos de desenvolvimento de cada sociedade e de seus habitantes; em geral, toda sociedade expressa seu próprio desenvolvimento, e decide seu modo de realizar, independentemente do juízo que se atribui. Não existem sociedades desenvolvidas e sociedades não desenvolvidas, sim sociedades desenvolvidas de uma maneira ou de outra. Não há sociedades que não tenha seu próprio modo de desenvolver-se. De esse modo desenvolver-se está determinado historicamente e está presente em seu processo evolutivo. Se estudarmos esse processo verá como nasceu essa sociedade, como se consolidou, como se conserva e por último, como vai decaindo para dar lugar a outro processo de desenvolvimento de uma nova sociedade. Portanto, o desenvolvimento de uma sociedade corresponde a seu ciclo de vida.

5 – Se chega à conclusão de que o tipo de desenvolvimento de uma sociedade é a relação direta com o tipo de saberes que utilizam e que estes têm a capacidade de estruturar e orientar o tipo de desenvolvimento de uma sociedade. O ciclo de vida de uma sociedade está estreitamente ligado ao ciclo de vida dos saberes que alimenta: a aparição destas marcas é o nascimento da sociedade, a consolidação destas, conserva a sociedade, a superação destas, marca a decadência da sociedade. Obviamente, dado que a relação se da em ambos sentidos: a sociedade também julga um papel fundamental, na medida em que recebe e mantém os saberes que necessita e aleija e rechaça aqueles que podem por em perigo.

3. O DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES ENTRE O SABERES LOCAIS TRADICIONAIS E OS SABERES GLOBAIS ALIMENTADOS DOS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS MODERNOS.

Se observarmos as sociedades nacionais e locais do Sul e do Norte do mundo, veremos que a relação entre conhecimento e desenvolvimento se divide em sem fim de relações, que – simplificando a máxima, pese a todas as limitações de macro classificações – se podem agrupar em três macros tipologias:

- Em um extremo nos encontramos as sociedades tradicionais fundadas exclusiva e principalmente em saberes de culturas locais ou regionais: por exemplo, as aldeias da Amazônia, cujo desenvolvimento se rege por sistemas de saberes orais, as comunidades humanas da micronésia, donde as culturas locais e seu desenvolvimento estivessem sido afetados por saberes do turismo global.

- Em outro extremo está às sociedades de recente formação, cujo desenvolvimento está fortemente governado por saberes da cultura cientifica e tecnológica mais evoluída de hoje: por exemplo, os novos assentamentos de sociedades urbanas construídas com uma geometria social completamente nova, como Brasília.

- O centro e os lados nos encontramos um conjunto infinito de relações entre saberes antigos com desenvolvimento social e econômicos tradicionais e novos saberes disciplinados com um desenvolvimento pós industrial que dar viés a sociedades muito diversas: desde sociedades com uma forte cultura tradicional muito valorada em um desenvolvimento econômico e social endógeno e sustentável (por exemplo, a sociedade presente na região de Toscana e seus em tornos, na Itália), as sociedades que nos da valor socialmente, desde que se perda o patrimônio cultural do território a favor de formas de desenvolvimento moderno não sustentável endógeno (por exemplo, as de cidades periféricas de grandes cidades tanto do Norte como do Sul do mundo, caracterizadas, em maior ou menor escala, pela urbanização selvagem, pela economia de sobrevivência, o anonimato e a exclusão social).

Em este contexto o problema que saberes para que tipo de desenvolvimento e que tipo de desenvolvimento com que saberes? Face alusão aos saberem utilizados, e sem as tradições científicas, locais e globais.

4. O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE GLOBAL SEGUE OS SABERES DO RACIONALISMO LINEAR.

Começamos com a crítica e as possibilidades dos saberem científicos e as tecnologias derivadas deles. Existem concepções cientificas e práticas que fomentam os desenvolvimentos típicos de sociedades industriais, estas se encontram atualmente em uma fase de crises profunda a nível mundial: por exemplo, somente, pensamos em os graves danos ao meio ambiente e no caso desigual (por exemplo, entre o Norte e Sul) e a instabilidade dos recursos do planeta e na alteração do equilíbrio ecológico que, durante milhões de anos, é permitido conservar a energia necessária para a manutenção da vida dos homens e das mulheres, dos animais e das plantas. Pensamos também nas novas enfermidades que se está propagando rapidamente nas sociedades ricas do Norte e que está afetando também as camadas mais abastadas do Sul (como as enfermidades nervosas e psicossomáticas derivadas do estresse e da perda do sentido de pertinência das enfermidades circulatórias e os tumores) induzidas – como se havia demonstrado nos estudos internacionais – por modelo de desenvolvimento baseado na acumulação desenfreada de bens materiais. Pensamos também nas novas pandemias da atualidade: desde os milhões de pessoas que morrem anualmente em acidente, no tráfico, com a AIDS, que elimina milhões de homens e mulheres em todos os países pobres, um grande número de pessoas que perdem a vida em acidente de trabalho e a mortalidade infantil, que alcança cifras intoleráveis no Sul do mundo.

Este desenvolvimento devora os recursos sustentáveis do planeta, gerando graves desigualdades entre Norte e Sul e conflitos entre distintas regiões e culturas às vezes inclusas o sonho de uma mesma região, levando a degenerar a violência e guerras. Portanto, é legítimo perguntar-se em que medida a prática deste tipo de desenvolvimento está relacionado com sistemas de saberes fortes, os mais legítimos, que tem uma incidência maior na estrutura do poder e se consideram a si mesmos como racionais e objetivos, pelo que em realidade é expressão de interesses e de perspectiva de uma parte e, portanto, não são capazes de interpretar e de aceitar a independência do fenômeno completo, mostrando-se incapazes de resolver problemas globais, que ao final acabam rebatendo contra os mesmos portadores destes saberem fortes.

A concepção do desenvolvimento entendido como crescimento quantitativo ilimitado das sociedades industriais do Norte e dos cuidados do consumismo mais atendidos a elas, que no Sul do mundo gera pobreza e discriminação no acesso a bens e recursos e, portanto, um desequilíbrio político, social e econômico, está intimamente ligado a uma concepção cientifica moderna epistemologicamente absoleta: uma funciona graças à outra e vice versa, se completando entre si.

Estudar este tipo de relação não é luxo exclusivo de investigadores do mundo acadêmico, sendo que é uma obrigação civil e profissional de todos os responsáveis, a qualquer nível, de estratégias e de práticas de desenvolvimento material e imaterial local, nacional e transnacional: os atuais processos de globalização de esferas cada vez maiores da vida dos homens e das mulheres atuais não são imunes ao problema que acabamos de expor. E mais, se há de dizer claro que um dos riscos históricos de nossa época é a difusão em escala planetária de um modelo de desenvolvimento cultural, social e econômico alimentado pelos paradigmas de uma ciência que, por muito avançada que está tecnologicamente, e co-responsável pela crise que está atravessando a terra – uma crise sem precedentes desde que aparecera a espécie humana a milhões de anos.

Falaremos somente algumas das relações mais significativas. Quem quiser aprofundar pode fazê-lo através de bibliografia. E nesta ocasião nos referimos sobre toda a concepção da ciência demonstrativa nascida da cultura européia moderna, ainda dominante no mundo, que tem sido duramente criticada pela epistemologia contemporânea, sim, pelo elo que se deseje reconhecer a importância que ao longo da história tenha tido essa compreensão do mundo e em seu nascimento da raça humana. Está se fazendo uma crítica da ciência que defende solução mais avançadas de conhecimento cientifico capazes de dialogar e debater com as formas de saber tradicionais não menos fácies, concebidos por sociedades milenares situadas no oriente e no ocidente da Europa.

A primeira crítica se dirige contra uma ciência incumbida da sua lógica de corte racionalista ilustrativa e positivista, que a engendrada na ideologia na fé, na razão absoluta como parâmetros único e indiscutível de progresso e civilização. Logicamente, nada é tão ingênuo ou cego como para nos apreciar as enormes vantagens que os saberes científicos nos permitem e nos seguem permitindo alcançar em os distintos campos da vida humana desde o nascimento da ciência moderna até nossos dias. Também é compreensível que examinemos a “Razão Laica” como forma de interpretar o mundo e mover-se como reação a cultura medieval européia, em que a ciência era fundamentalmente declarativa, se baseava no princípio de alteridade e estava dominada pelo pensamento filosófico dedutivo, que pretendia por si só explicar sistematicamente o homem, o mundo e o universo. Não desejo de maneira alguma diminuir a importância da razão e da investigação cientifica, nem muito menos o desenvolvimento das sociedades. Pelo erro do racionalismo europeu moderno, cometido pela investigação cientifica e transmitidos às sociedades atuais das tecnologias e profissões, e que apresenta limitações inclusive em seus êxitos mais destacados; limitações que há quando perfeitamente presentes em seus mais de quatro séculos de aplicação.

O enfoque disciplinador empírico e experimental propiciado no nascimento e no desenvolvimento dessa enciclopédia extremamente ampla e em crescente expansão que é a ciência moderna: a investigação cientifica estuda âmbitos e setores cada vez mais específicos da realidade, tanto dentro como fora de nosso mundo. Para construir disciplinas e conhecimentos especializados, a investigação cientifica está pagando um preço muito alto, em termo de ampliação da objetividade de concepção de desenvolvimento de nosso planeta.

Seguindo os enfoques lineares das disciplinas, tende a segmentar a realidade, em nosso caso, o desenvolvimento, é a de considerar erroneamente como objetividade última de que está no solo da objetividade do segmento, que se estuda fora de seu contexto. Daí surge à visão exclusivamente economicista do crescimento e das teorias e das práticas de desenvolvimento, que incorre em erro de confundir a capacidade produtiva e a qualidade de vida e os entorno: a qualidade do desenvolvimento do meio ambiente e do homem a de ser tratada por disciplinas e teorias que estudam o bem estar de toda a população e da natureza e seu delicado equilíbrio.

Do mesmo modo, os enfoques especializados e reducionistas que mantêm separados entre si as distintas disciplinas e encerra a teoria e a prática em compartimentos analíticos que não é precisamente neutra: de resto, ao outorgar um valor geral destacando-se claramente a favor de um ponto de vista setorial, que, por muito importante que possa ser, nos da uma imagem distorcida da realidade, na luta, a troca, está constituída por mais setores inter-atuantes. No caso do desenvolvimento de um território que conta com uma sociedade humana determinada e um ambiente natural especifico, deixa legitimação cientifica nos leva, por exemplo, cremos na ilusão de que uma intervenção urbana, incluso si for proporcional ao contexto da vida da gente, basta por si só para frear o desenvolvimento (e não se questiona em absoluto a necessidade de construir casas, escolas, hospitais, carteiras e demais), o que uma intervenção do tipo econômico, por mais necessária que resulta para viver, resolva por si só os problemas da gente, o que uma ação social e educativa dispare por si só o desenvolvimento (que aumente a formação dos jovens, da educação dos adultos e dos serviços sociais indispensáveis). Todos sem exceção crêem que o desenvolvimento está formado por casa, trabalho e escola e se dedem em estes três setores (pelos outros setores iguais e indispensáveis, como a saúde, a liberdade, a boa administração, etc.) e são necessidades fundamentais para a vida da gente ser digna, tanto no Norte como no Sul.

Se posteriormente intentamos ver o grau de objetividade existente na racionalidade geométrica, analítica, que observa o dato a distância, desumanizando e medindo com o otimismo frio da razão separada, nos damos conta de que por um excesso de confiança para resolver séria e coerentemente um determinado problema humano: a leitura de um episódio da vida desde fora, saindo de seu contexto para explicar e experimentar soluções em uma situação parecida a de um laboratório, construída artificialmente, oferece um grau de objetividade facilmente criticável, e que está fora de contexto. O ser vivo, troca segundo este ambiente e de seu contexto.

A questão do contexto não se considera como um critério discriminante para poder haver deduções objetivamente válidas, porque a razão reducionista trata a realidade vivente como um objeto e não como um sujeito. Esta queda claramente demonstrada nas ciências humanas e mais em geral, nas ciências da vida: pensemos na interpretação de um fenômeno social e cultural embasado em variáveis e indicadores concebidos por uma mente de investigação sem perguntar se estas estão presentes e si são significativas para os indivíduos que vivem deste fenômeno social e cultural. É assim com a ciência, com todos os cânones de sua sagrada objetividade, pode levar a discriminação e injustiça, construindo interpretações que não se corresponde com as vivências reais e afetivas dos atores do episodio observado. De resto, há que acelerar onde está à base epistemológica da objetividade cientifica: está na garantia de validade dos procedimentos adaptados pela investigação, independentemente do ponto de vista do sujeito estudado, e, portanto, está todo o elo em um ponto de vista do investigador. O que não faria falta perguntar em que medida o ponto de vista do sujeito investigado e dar uma expressão interpretativa, que, em definitivo, constitui o autêntico dado da realidade que tem ante si o investigador.

Em as ciências da vida biológicas se põem de manifesto e equivoco da racionalidade objetiva do observador cientifico. O eixo de tratar como um objeto a sua disposição a qualquer ser vivo e manipulá-lo a seu gosto é que o investigador incorre em falsidade cientifica: falsifica a interpretação da realidade porque da uma imagem do ser vivo como uma coisa, uma quantidade composta por pena, e fazendo esta interação entre si; e decidir, um objeto que pode desmontar e montar a seu gosto, perdendo por completo a visão de conjunto, e os nexos vitais, das forças energéticas que é igual e importante explorar para entender a natureza da vida e os equilíbrios entre os seres vivos. Esta concepção quantitativa, setorial, reducionista de uma objetividade criticável também se põe em manifesto em o estudo e em tratamento da matéria inerte: até que ponto o descobrimento dos processos químicos e físicos que formam o mundo material, autorizam a ciência, a decidir, a conhecimento humano considerado mais evoluído, a modificar o seu gosto esses processos, produzindo materiais artificiais causando danos ao homem e para o equilíbrio da terra? Pode-se clamar esta ciência, e decidir, um conhecimento capaz de apreender as leis internas da natureza, explica-la e de respeitá-la? Basta citar o caso das numerosas contaminações que está criando danos gravemente ao planeta e seus habitantes.

E que não se diga que o erro não está na investigação cientifica, que é neutra, como também e a racionalidade cientifica, em seu uso impróprio que ela herda da sociedade através de uma má aplicação tecnológica. Uma vez mais, nos encontramos com uma concepção de cientificidade segundo a qual a objetividade se consegue com a “razão segmentada”, que pretende atribuir a um segmento da disciplina e valor do todo, obviamente, portanto, a interpretação de conjunto, que, pelo contrario, nos ofereceria uma explicação completamente distinta do segmento da realidade estudada: a final de contas se trata de uma racionalidade reducionista de tipo formal (o cumprimento das regras e da lógica) que renuncia aos vínculos da explicação situacional (como está colocado esta realidade o mundo em seu conjunto e quais são as relações que o fazem assim) e termina por não conhecer a realidade com sua destrutiva neutralidade, que em realidade com suas regras completas, encarcerada em sua destrutiva neutralidade, que em realidade e uma tomada de postura parcial em nome de uma ciência sem consciência, e decidir, de uma razão manca.

Este é um problema de peso que tem torturado as mentes de grandes cientistas como Einstein durante todo o sigilo passado frente aos nefastos efeitos da manipulação da matéria sobre o equilíbrio do planeta e da vida de milhares de milhões de seres vivos.

Pese a que as questões aqui colocadas sobre a relação entre conhecimento cientificam e utilização do planeta é só uma introdução ao problema é necessário ser tratado com mais profundidade, se pode descer sim ao lugar dado, que a crise da racionalidade e da concepção de desenvolvimento que dela se deriva: uma racionalidade auto-referencial, neo-ilustrada e neo-positivista que, depois de haver elaborado a concepção de progresso como desenvolvimento linear e quantitativo em todas as sociedades industriais do Norte e quererem exportá-lo a outros países do Sul, resultam ser parcial e nada natural, e que persegue a ética da primazia do primeiro mundo sobre todos os outros.

5. HÁ UMA EPISTEMOLOGIA SUSTENTÁVEL NA CIÊNCIA E NO DESENVOLVIMENTO: A BUSCA DE PARADIGMAS NA RACIONALIDADE PLANETARIA.

A esta altura da analise, a relação entre ciência e desenvolvimento nos leva ao cerne da questão: que racionalidade pode adquirir a ciência em um mundo planetário, em que a crise da ciência ocidental está relacionada com as razões dos saberes de outras sociedades e culturas? Que desenvolvimento as sociedades contemporâneas pode conceber e praticar a ciência se ela mesma está falando do peso histórico a um mundo pós-moderno em busca de uma humanidade inteira e por tanto, um humanismo que defende os deveres e os saberes do homo sapiens como tal, não considerado antropocentricamente, sendo uma parte integrante do mesmo sistema de vida na terra e do espaço que a cerca?

Ao lidar com esta interrogação, o debate sobre passa das fronteiras da ortodoxia acadêmica, ancorada em uma ciência conservadora: em as comunidades intelectuais mais investigadoras de distintas culturas e sociedades, entre os representantes das tendências cientificas e ideológicas mais divergentes e com a bagagem de investigação e de cooperação internacional mais variada possível se está produzindo um profundo replanteamento da sustentabilidade epistemológica do conhecimento que possa definir como objetivo e por tanto, cientifico, considerado em seu conjunto e articulado em o pelame de saberem disciplinados. Este replanteamento, por reflexo, nos leva a perguntarmos também pela sustentabilidade e pelas concepções de desenvolvimento humano e das sociedades locais, nacionais e transacionais que o conhecimento mais avançado pretende fomentar.

Pode-se introduzir este amplo debate internacional resumidamente através de alguns paradigmas inovadores da investigação epistemológica contemporânea, que definem os atributos de uma racionalidade digna de escala planetária: entre eles, a racionalidade completa, a racionalidade autocorrigivel, a racionalidade empática.

A RACIONALIDADE COMPLETA

Por que se refere à complexidade da realidade, desde a micro realidade de cada ser vivo a macro realidade do mundo global e mais além, e sobre o tema de complexidade dos enfoques e dos saberes para elaborar uma explicação fiel da realidade e introduzir trocas coerentes, a bibliografia internacional está consolidada e os pontos de referencia estão reconhecidos. Compartimos do critério epistemológico da “ampliação da cientificidade”: a objetividade cientifica se deve não a demonstração de uma tese concreta de um segmento de disciplina, segundo a capacidade dessas teses de embarcar em um conjunto de variáveis que constituem um fenômeno com múltiplas facetas e de aportar uma contribuição significativa à resolução do fenômeno em seu conjunto. Estamos vivendo a transição da cientificidade reducionista da cientificidade completa, que, em alguns aspectos é a realização da primeira e em outros, sua extinção: segue existindo a necessidade de comprovar pontualmente determinados aspectos da realidade examinada por ramas especifica de uma disciplina, pelo o que se ande a comprovação cruzada entre os demais aspectos e as respectivas disciplinas de referencia.

O enfoque integrado do conhecimento, que há dialogar a saberes disciplinares distintos sobre problemas complexos e capazes de oferecer uma interrogação objetivamente confiável e, por conseguinte, se mostra múltiplas chaves capazes de resolver sinergicamente tanto as partes como o conjunto do problema. O componente setorial estudado e a disciplina competente do caso, não perdem valor, sim o que ganha: de resto, sua autonomia de significado e de estudo não menos cabe sua justificação com processos auto-referencial (que, como se sabe,são nós mesmos culpado dos devaneios do especialista como disciplina absoluta e dos graves desequilíbrios do desenvolvimento concebido e praticado unilateralmente), sendo que adquirem um valor danado em sua capacidade de oferecer uma contribuição indispensável que se funde com as demais e dos outros aspectos do problema, como no caso do enfoque interdisciplinar do desenvolvimento integrado de uma sociedade local. Nesse caso, se desmontam os aspectos constituintes do problema do desenvolvimento do território como conjunto em que se entrelaçam distintos aspectos da vida e da população no entorno, e se reconstrói em uma leitura integrada de diversos aspectos: partindo desta base, as disciplinas há de elaborar juntas respostas integrada e total do desenvolvimento da sociedade humana e do meio ambiente de um território determinado. O principio da hierarquia dos saberes disciplinados, que enriquecem alguns, desacredita e exclui outros, acabam substituídos por princípios de complementaridade das partes de cada disciplina, donde, si tem que saber um primado, este será para as teorias disciplinares e das metodologias de atuação que melhor logrem conexões com outros saberes e com outras ontologias profissionais e de atuação.

Por tanto, a ciência completa é uma ciência cooperativa: se alimenta das trocas e dos préstimos entre as disciplina, não é egoísta nem auto-defensiva com o que adquire de cada disciplina, pelo contrario, intenta estabelecer novos laços entre os setores disciplinados, entre sua teorias, entre seus enfoques científicos. É um critério epistemológico que constitui sua cientificidade, a qual se alimenta das cientificidades parciais das disciplinas, e das quais confere um maior nível de confiabilidade cientifica através da aliança interdisciplinar. A ciência completa supõe o abandono definitivo da concepção do saber cientifico encarregado da disciplina como análise separada para abrir a capacidade de fazer uma síntese interdisciplinar da realidade completa.

A RACIONALIDADE AUTO-CORRIGÍVEL.

Esta capacidade que adquirem as teorias e os enfoques de relação para poder explorar um mundo que cada vez se mostra mais interconectada e interdependente modifica o paradigma da ciência moderna fundada sobre a certeza da coisa cientifica e por tanto, sobre a estabilidade da ordenação disciplinaria. Uma disciplina que se permite participar dos processos de análise e de síntese da complexidade da realidade termina por considerar muita sua ordenação interna e admite que possa ser superado por teorias o enfoque disciplinar mais abertos e adequados para ler a nova realidade interconectada. Por tanto, é suscetível de desaparecer cientificamente o sobreviver como uma forma de conhecimento residual e por onde, estéril, se não é capaz de trazer uma nova ordenação disciplinar que formule seu objeto de estudo e a metodologia para estudá-la. A ciência completa é parte da ciência auto-corretiva.

Cada dia que passa os novos cenários da globalização interconecta mais os fenômenos do meio ambiente, social, cultural e econômico em escala mundial, mas também a saúde, os fenômenos ligados à educação, a ordenação territorial. A globalização obra, ademais, profunda das trocas em esquemas mentais e de forma mais geral, em a psicologia dos jovens e dos adultos, tanto ao nível individual como coletivo através de novas Tecnologias de Informações e de Comunicações, que envolve a vida dos habitantes do planeta em uma rede cada vez mais tépida: solo da ciência e das disciplinas individuais que logram corrige-se a si mesma e poder um dia para manter ao passo esta nova revolução dos esquemas da realidade contemporânea, conseguir manter e potencializar sua grande cientificidade e oferecer conhecimentos mais avançados e mais adequados para governar as profundas trocas que estão produzindo.

Em um panorama assim, as marcas das fronteiras entre as disciplinas desaparecem, se reduzem às distâncias entre os conhecimentos próprios de cada disciplina, antes incomunicáveis, e que tem que tratar problemas contínuos (pensemos, por exemplo, em como se entrelaçam o desenvolvimento cultural, o desenvolvimento educativo, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social). Incluso a tradicional separação entre ciências tradicional e ciências dos homens desaparece criando postulados para uma epistemologia única capaz de reconstruir conjuntamente as bases interpretativas do homem e da sociedade (pensemos na indispensável visão integrada de desenvolvimento material e desenvolvimento imaterial de um território).

A crescente influência entre fenômenos distintos obriga as lógicas disciplinares consolidadas e ancoradas em análises intocáveis de romper a seguridade dos esquemas racionais e deixar que estes se contaminem por outros pontos de vista e nas trocas de conteúdo e métodos. A ciência auto-corretiva obriga a inverter a tendência das disciplinas estacadas e os setores incomunicáveis de uma mesma sociedade própria da epistemologia tradicional, que por sua vez defende uma cientificidade mais aberta à continuidade dos problemas e do acirramento entre os enfoques disciplinares. A condição necessária para que a investigação cientifica possa ser protagonista dos rumos do atual desenvolvimento planetário e a capacidade de por em tela de juízo os ordenamentos mono disciplinares consolidados e de construir redes disciplinarias.

A parte da mestiçagem disciplinaria, outro amplo campo em que as disciplinas separadas devem auto-revisarem é de contê-los as realidades tratadas, em que não pode terminar em marco desta potência. Em concreto, a perspectiva preponderante das disciplinas básicas das ciências humanas segue sendo a ocidental. Por suposto, não quero por em dúvida sua importância histórica. Por esta época de planetarização, em que as sociedades, as culturas e seus saberes está experimentando um giro de trezentos e senta graus, as ciências humanas não podem permitir nenhuma introdução entre as áreas de investigação e didática universitária, as dimensões planetárias do enfoque: desde a filosofia e a história, introduzindo as grandes filosofias das outras culturas e a história de outras grandes regiões do mundo; desde a literatura e a sociologia, como os importantes movimentos literários e artísticos de outras culturas e o estudo das sociedades de outros continentes.

Somos-nos limitados a apresentar primeiramente a grande questão de auto corrigibilidade da ciência e das disciplinas que aspiram a formar parte dela: é suficiente esta introdução para indicar uma linha de investigação que resulta esta insustentabilidade nas universidades e na prática que impera pelos programas de cooperação internacional e o desenvolvimento das sociedades e das culturas. As concepções de desenvolvimento do Sul do mundo fundadas na exportação pura e dura dos modelos de desenvolvimento que estão em plena crise no Norte do mundo, baseadas em exportação de recursos humanos e materiais do Sul, em beneficio do Norte, derivam de uma cultura cientifica e tecnológica que representa, si bem de forma mais sofisticada, uma neocolonização em beneficio dos grandes poderes econômicos e políticos e que aumenta a brecha entre países ricos e pobres, entre as elites e a pobreza, gerando graves desigualdades e tensão que poderia engendrar muita violência dentro da aldeia global. A formação dirigida há uma ciência completa e auto-corretiva tem uma importância fundamental para a construção de novos parâmetros de desenvolvimento sustentável.

A RACIONALIDADE EMPÁTICA

É este paradigma epistemológico de um enfoque cientifico planetário, inovador na investigação e no desenvolvimento, nos remete a dimensão de racionalidade empática, e as disciplinas que estudam as distintas dimensões do entorno, e aí mais, as disciplinas que estudam o ser humano e sua produção cultural, tangível e intangível. Há que enxergar bem esta postura para evitarem equívocos e mal entendidos.

Retrocedemos aos sabores do pensamento cientifico moderno. Se há de recordar o clima histórico em que nasceu a ciência em sua concepção moderna, chamada ciência demonstrativa, porque havia sinergia na competência investigadora baseada na própria experiência. A ciência moderna nasceu como reação frente aos tipos de conhecimento que havia gerado a cultura medieval. Pese a base do desenvolvimento muito dos signos que medem desde a queda do Império romano herda o legado do humanismo, e da cultura medieval o saber era difuso e tinha um forte caráter emocional. Não era mera causalidade que desse saber estivera controlado por uma ciência declarativa edificada sobre o pensamento filosófico dedutivo para uma elite intelectual e de conhecimento de sentido comum com um forte caráter emocional, eram, para o cuidado normal, das caras da mesma moeda. Em ambos os casos o saber adquiria conotações sagradas: o pensamento das elites intelectuais era intocável e inacessível, devia acobertar sim e repetir as crenças que, de alguma maneira, derivavam do mesmo pensamento latente (não duvidemos que a língua e os documentos fossem em latim, falado por muito pouca gente). Em este marco histórico apenas esboçava, o conhecimento doto que emanava de sua origem comum sagrado e autoritário: o profundo caráter moral do conhecimento. O conhecimento se dividia em saberes bom e em saberes do mal: o primeiro, colaborava bem com a existência futura e por tanto, se devia fomentar. O segundo colaborava com o mal e por tanto, se devia evitar sempre. O conhecimento da realidade tinha um valor ético em si e por tanto, alimentava em seu interior uma racionalidade com uma grande carga emotiva: e bem devia ser concebido e desenhado, e o mal não devia ser desejado, sendo temido e aleijado.

Com as trocas históricas do Humanismo e do Renascimento este paradigma entrou em crise. Qualquer oposição à censura do saber e ao saber pregado por ela se paga com a vida. A revolução copernicana do conhecimento cientifico moderno separou a categoria de verdade da categoria de justo: daí que surge o principio da razão objetiva como conhecimento neutro e postura neutra de investigação frente ao objeto estudado. O descobrimento do imenso poder da racionalidade humana, que podia explicar por si só cientificamente a realidade e – ainda mais – transformá-la como sabemos, a fomento e inchamento da razão em muitos signos e mitos da poderosa razão antes da razão positiva despir, como frente garantida de progresso e civilização. Sem substituir o mérito da razão experimental, que havia contribuído também com o nascimento do pensamento democrático e das democracias representativas, esta fé indiscutível na neutralidade da razão cientifica dando origens, como sabem, a tecnologia e as maquinas e ao domínio cada vez maior das maquinas na sociedade industrial, transformando o poder das máquinas e da razão e construindo um modelo de desenvolvimento baseado exclusivamente em quantidade: uma quantidade de bens de consumo, descartáveis e não renováveis que crêem necessário sem fim. São necessidades e bens produzidos por máquinas cada vez mais sofisticados e dominantes, para levar as máquinas imateriais capazes de pensarem pelos homens. Pela racionalidade cientifica moderna, como temos visto antes, ademais de todos os seus méritos indiscutíveis, tem também seu calcanhar de Aquiles, como ficou claro lá atrás: a racionalidade neutra não existe. O principio do conhecimento separado que examina o objeto excluindo o contexto é precisamente um ponto de vista que resulta discutir desde o momento em que se adota a perspectiva da realidade complexa. O enfoque auto-corretivo e complexo é o antídoto contra as distorções de uma realidade que, em nome de sua neutralidade, já perdido contato com o meio ambiente e alterado os equilíbrios da vida do planeta alcançado através de processos evolutivos que já durava milhões de anos. Pelo também perdido o contato com os homens e as mulheres reais, com seus problemas de sobrevivência, com a dignidade de suas vidas, com as injustiças e as infâmias mais cruéis que jamais havia cometido o homem em escala mundial.

Como pode o conhecimento cientifico responder a relação com a natureza, com a qualidade de vida, com a qualidade do desenvolvimento das sociedades locais, nacionais e transnacionais? A resposta se encontra nos estudos que o mesmo conhecimento cientifico está elaborando desde a algumas décadas sobre a natureza e a função do conhecimento na história nosso planeta e da humanidade: as ciências ecológicas, paleo-antropológicas, neurobiológicas e cognitivas mais avançadas nos dizem que o conhecimento humano mais completo é o que integra o conhecimento derivado do sentir com o conhecimento derivado do pensar: a idéia mais profunda dos significados da natureza, do homem, do mundo Não se consegue quando a razão se encerra em si mesma e se isola dos contextos, nem tão pouco quando as emoções e as paixões primam sobre a razão, sim quando a razão não expulsa de si mesma as vivencias emocionais, sim quando dialoga com elas para intentar conhecer os significados profundos da realidade, o que não pode encerrar em um esquema rígido e friamente elaborado, tem que ser manifestado na infinita riqueza da biodiversidade e dos sistemas ecosuntentáveis que vive no planeta. Então, o conhecimento cientifico se libera do equívoco da neutralidade – que de todas as maneiras não cumpria – a racionalidade objetiva, epígeno de uma razão que não a cumpria a promessa de resolver por si só os problemas fundamentais da existência do planeta e de oferecer por si só as chaves do progresso, do desenvolvimento das sociedades, do bem estar e da felicidade a todos os que precisam dela. Pelo contrario, esta nova ciência emergente, visível em tantos estudos de investigação e profissionalização das disciplinas mais variadas que participam de programas de cooperação e desenvolvimento em todos os lugares do mundo, recompõem da unidade de conhecimento sensível e pensante e se converte em racionalidade empática. Aqui não se pretende replantar novamente o dualismo da ciência demonstrativa, que desde a insolência da razão peca de compreensão paternalista. Nem muito menos se pretende retroceder ao largo dos signos da racionalidade pré-moderna, moralizante e censurada subordinada a vivencias emocionais irresolutas.

Trata-se, mais bem de reconstruir uma ética da ciência dentro desta, utilizando seus mesmos instrumentos epistemológicos e científicos, proteção sobre a natureza mesma do conhecimento e sobre seus significados e sua função na vida dos seres humanos e do resto do mundo. É um caminho, que pode utilizar o campo da cooperação internacional para poder criar uma epistemologia do conhecimento cientifico nem reducativamente racional nem pretensiosamente neutra, sim completa, auto-corrigiva e participativa. Por tanto, a ética cientifica, como poderíamos denominá-las também profissionalmente frente ao desenvolvimento, e não fundada no trabalho investigador e prático na relação tradicional entre sujeito investigador e objeto a estudar, si não em relação entre sujeitos autores de saberem distintos: só os saberes intercomunicados e abertos dos investigadores dos que sai ao encontro dos saberes e dos portadores de problemas e de interesses individuais e coletivos, porque também se reconhecem os lugares da natureza e os significados profundos que estes encerram. Desta maneira, tanto um como outro constroem saberes compartilhados e inovadores, capazes de desenvolver as sociedades e suas culturas. Assim, através da prática cientifica e profissional participativa em áreas do desenvolvimento, os investigadores e os cooperados terminam fazendo descobertas totalmente novas e fecundas com uma grande objetividade: as sociedades e as culturas que a racionalidade reducionista havia classificado como subdesenvolvida, emitindo um claro juízo discriminatório, demonstram que possuem saberes que, passa a ser menos sofisticados, são capazes de reconhecer e estabelecer relações equilibradas entre a comunidade humana e a natureza. São culturas, que, passa dos limites e das contradições de sua historia, é saber elaborar o lago dos signos uma boa síntese do sentir e do pensar (pensamos, por exemplo, nas culturas não violentas da Índia e as culturas cooperativas da África subsahariana) sem sofrer o antagonismo emoção-razão que marca a oposição entre as soluções da Idade média e da modernidade ocidental. Assim mesmo, em sua concepção epistemológica, as ciências empáticas, compassivas, participativas e holísticas também estão intentando recompor esta unidade sensível-pensante na mente investigadora e na unidade homem-natureza e desenvolvimento.

Em este caminho, que a voz cientifica e formativa, relacionam ciência e desenvolvimento que arrancamos estas analises enquanto uma resposta entendida como pista de trabalho, tanto para investigadores como para profissionais do desenvolvimento: o conhecimento indispensável para o desenvolvimento de um território não vem dado por saberes do racionalismo disciplinário que rechaça os saberes das culturas tradicionais, nem se limita aos saberes tradicionais que não logram relacionar com os saberes planetários do pensamento cientifico hegemônico. O conhecimento para o desenvolvimento do mundo atual, global e local as vez, demanda um novo estagio epistemológico da ciência: a ciência completa, auto-corrigiva e participativa, construída por investigadores e os profissionais da cooperação junto às comunidades humanas do Norte e do Sul. Esta ciência expressa o estado mais democrático e mais avançado do conhecimento humano em nosso tempo: os saberes que criam o desenvolvimento em um território não é propriedade exclusiva dos investigadores e dos cooperantes, conforme o modelo de saber cientifico moderno que ensina a propriedade exclusiva do experto. São os saberes de uma ciência que se põe ao próprio dialogando com os saberes locais e criando saberes endógenos ecosuntentáveis. Desta maneira, o poder do conhecimento, através da ciência livre e comprometida, envolve a sua natureza original: passa a ser elitista e separada a convertida em patrimônio de todo ser humano para construir sua auto-poesia e participar do desenvolvimento total da comunidade humana. Por conseguinte, os programas de desenvolvimento dos territórios não aplicam modelos idealizados com a racionalidade separada, sendo que, participando em busca de modelos internos a comunidade através da racionalidade completa e auto-corretiva e participativa, oferecem uma importante participação graça a participação de uma ciência planetária mais avançada e de um humanismo planetário inédito e atualmente indispensável.

Está certo que a comunidade cientifica e a cooperação ao desenvolvimento tem ante si, a utopia que deve guiar os projetos de internacionalização da investigação e da formação, como Interlinkplus, que pese as suas limitações, é uma rede de investigadores da universidade italiana e latino americana dedicada a estudar e a experimentar modelos de revalorização conjunta do potencial humano e do patrimônio territorial com o fim de conseguir um desenvolvimento de qualidade em todos os oceanos.

A este respeito, o projeto InterlinkPlus pode constituir uma valiosa ocasião para promover e por em marcha na universidades da América Central e do Caribe, com a colaboração de universidades européias, um programa estratégico de doutorado internacional que forme investigadores de alto nível no campo do desenvolvimento, tal como há pedidos distintos setores da região. Este programa poderia estar aberto a professores e profissionais e da cooperação.

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