A JUVENTUDE PÓS 64, A POLÍTICA E OS
PROTESTOS DE RUAS.
Por Jeorge
Cardozo*
A reflexão que
hoje faço aqui, no que à realidade brasileira diz respeito, não poderia ser
avaliada na sua verdadeira dimensão se não tivéssemos presente o Golpe Militar
de 26 de março de1964, que agora completa 49 anos e os seus reflexos junto à
juventude.
As inquietações,
idéias e propostas aqui contidas são, sobretudo, reflexas da realidade do nosso
país, desde o golpe militar de 1964 aos dias atuais. Correspondem, portanto a
uma fase clara do avanço e recuo do capitalismo e da luta e resistência por parte
dos trabalhadores e pelo povo brasileiro, de um golpe que há 45 anos abriu
portas para uma democracia hora caminhando e de um processo de avanço
desempenhado pelo grande capital e pelos partidos da direita e da social
democracia que, a serviço do imperialismo americano e europeu, desenvolvem uma
política reacionária e corrupta, aos interesses e aspirações dos trabalhadores
e principalmente da juventude.
Todos os
projetos político e econômico aplicado no Brasil, durante e logo após o golpe
de 1964, foram contrários aos anseios da juventude. O capitalismo com sua
ideologia macro-globalizada apoiada pela força dominante do imperialismo
norte-americano mostram claramente a inexistência de política setorial capaz,
por si só, corrigir as profundas contradições criadas por tais sistemas. Por
outro lado, não significa que não tivemos alguns avanços e conquistas, embora
poucas e mal aplicadas. De certo que só com a superação do capitalismo
individualista por um sistema mais humano e mais social que liberte a
humanidade da exploração do homem pelo homem, que leve ao desenvolvimento do
sujeito e conseqüentemente da juventude, poderá modificar tal realidade. Porém,
não guarda contradição com a necessidade de desenvolvimento da resistência e da
luta da juventude em defesa de seus direitos e aspirações, com os diferentes
instrumentos que existem ao alcance.
A JUVENTUDE
NAS RUAS, O GOLPE DE 1964, O FORA COLLOR.
O golpe de 26 de março de 1964, o fora Collor e sua
importância na história e na vida do nosso país querem pelas profundas
transformações que proporcionou (nos planos políticos, econômico, social e
cultural), quer pelo significado político e o conteúdo reacionário, assume-se
de pleno direito como o maior retrocesso acontecido ao povo brasileiro, que contou
desde o primeiro momento com a resistência da juventude brasileira.
Durante os
quase vinte e cinco anos que durou a ditadura militar a juventude foi das
camadas sociais mais afetadas pela política do regime. Principalmente pelas
baixas condições de vida da esmagadora maioria da população que se refletiram
na juventude de forma bastante evidente, através do desemprego, da ausência
completa de direitos no emprego, da fome, da impossibilidade de freqüentar a
escola, do analfabetismo, do trabalho infantil generalizado na sociedade
brasileira, do abandono escolar, da imposição de uma visão retrógada sobre o
papel da família e da mulher, da política, das limitações à livre criação
artística e à prática do desporto, da atrofia do movimento juvenil e etc. Foram
também muitos dos jovens que passaram pelas cadeias do poder, que pereceram de
tortura e das mais horríveis privações e atentados à sua dignidade nas mãos da
polícia política do regime.
Esse conjunto de aspectos refletiu-se de forma que
grandes lideranças da política e da sociedade civil organizada ou não, no
Brasil tiveram de deixar o país. Em especial a juventude estudantil organizada.
Tendo como inspiração as ditaduras de direita, os
militares que se apossarem do poder no Brasil procuraram criar as suas próprias
estruturas de influências junto à juventude. Notadamente, no nível educacional
com a criação de matérias escolares como OSPB (Organização Social e Política
Brasileira), que servia de ideologia de recrutamento compulsivo de milhares de
jovens para suas fileiras fazendo da apologia do combate ao comunismo a sua
principal bandeira.
Com a decretação do AI/5 (Ato Institucional Nº 5)
devido ao desenvolvimento de movimentos contrários ao regime, tem início à
repressão e perseguições aos opositores do regime, que, ao longo de dez meses
manteve o Congresso Nacional fechado.
Nenhum povo poderá ser livre se oprimir as ações
juvenis. Em última análise, os injustificados sacrifícios que o regime militar
colocou o povo brasileiro e a juventude foi determinante para a ampliação da
consciência política dos jovens em especial, nos meios acadêmicos do nosso
país, chamando atenção para a imperiosa necessidade de destruir o regime
militar e construir um Brasil livre e democrático.
A participação direta na resistência dos quase vinte e
cinco anos do regime militar feita pela juventude foi um elemento presente em
todo esse período. Destacamos aqui o papel desempenhado pela juventude
socialista o seqüestro do embaixador Norte-Americano no Rio de Janeiro durante
o regime e, em seguida, nas lutas operárias dos anos seguintes de transição do
regime ditatorial para o regime democrático e das diretas já. Numa escala
diferente, também as lutas estudantis desenvolvidas, sobretudo em torno do fora
Collor tiveram não só um grande envolvimento como foram responsáveis diretos
por seu impeachment.
O levante popular que se segui ao impeachment,
desencadeado, sobretudo pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terras (MST), deu
o caráter revolucionário às ações praticadas pelos movimentos sociais no
Brasil. A participação de grande parte da juventude política desde os primeiros
momentos fez se sentir; não só muitos dos militantes do MST eram jovens, como
também muitos dos que saíram à rua e que buscam a revolução e suas conquistas.
A conquista da democracia e da liberdade de votar foi às
primeiras grandes vitórias da juventude brasileira. Os anos seguintes que
nortearam a democratização do país houve inúmera mudança econômica, cultural,
política e social. A aprovação em 1988 da mais democrática constituição da
república de toda a história do Brasil na altura vem consagrar, de modo geral
os ideais de mudanças, um vasto conjunto de direitos que, apesar de todos os
esforços para modificá-las, dos diferentes governos a serviço das classes
dominantes, ainda hoje se fazem sentir.
Em primeiro lugar, diversos direitos foram
conquistados para os trabalhadores – liberdade sindical de reunião e
associação, direito a subsídios de desemprego, direito à segurança social, direito
à greve entre outros, são algumas dessas conquistas.
Destarte, a consagração ao nível da Constituição de
1988, dos próprios direitos da juventude ter acesso à cultura, ao ensino e ao
trabalho, formação profissional, educação física, desporto e aproveitamento dos
tempos livres, apoio ao desenvolvimento do movimento associativo juvenil –
representou um avanço que transformou a realidade de então.
O voto aos 16 anos, a igualdade entre gêneros perante
a lei, os direitos sexuais e representativos, o direito à livre criação
artística, o alagarmento das instituições de ensino superior, as campanhas de
alfabetização, o certo desenvolvimento da escola pública e democrática, a
liberdade do movimento estudantil são algumas conquistas importantes da nova carta.
Além das conquistas acima, é oportuno mencionar com
particular resultado na discussão que hoje aqui travamos, foi o poder local
democrático e a eleição do presidente Lula em 2002. Mesmo sendo um governo nos
moldes social-liberal, esse instrumento veio transformar profundamente
a realidade da juventude no país. Objetivamente, deu resposta a muitas
aspirações da juventude, pois, a democracia é um importante instrumento de
defesa e promoção da cultura e do desenvolvimento das políticas públicas. Desde
sempre a juventude socialista, juntamente com outros democratas radicais,
estiveram no primeiro plano da realização da obra democrática com um contributo
singular. Tudo isso confirmou o caráter democrático e progressista da
constituição de 1988, deu resposta as velhas aspirações do povo e da juventude,
abriu caminho para um país livre, sobretudo, democraticamente avançando, rumo a
uma sociedade socialista. Em nenhuma fase da história do nosso país nos
aproximamos tanto da concepção que temos de avanços democráticos, isto é,
simultaneamente lutamos
por uma democracia política, econômica,
cultural e social, no quadro da soberania e independência nacional. Em nenhum
outro momento da nossa história a criatividade e a energia das massas estiveram
tão presentes. Pela esmagadora participação popular deram-se avanços históricos
nesse país nos últimos anos e a juventude foi seguramente uma das camadas
sociais que mais se beneficiaram da liberdade conquistada. O povo brasileiro
não tem pedido licença a ninguém. Tem sido um ato maior de libertação. Os
jovens têm os seus destinos nas mãos para revolucionar quando preparados para
tal situação.
Portanto, desmistificar e cultuar os verdadeiros
valores éticos e morais e acabar com a matança de jovens moradores dos guetos
em todo o país, criar programas de geração de emprego e renda para a juventude,
educação pública e gratuita de qualidade e cidadã, são bandeiras importantes de
lutas que a juventude brasileira terá pela frente de carregar e ampliar essas
conquistas.
*Jeorge Luiz Cardozo é professor mestre em políticas públicas e
desenvolvimento local sustentável.
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