VITÓRIA DE WAGNER: MORTE OU NOCAUTE NO
CARLISMO
Por Jeorge Cardozo*
Estudiosos do assunto comentam
por ai, que a designação esquerda e direita perdeu sentido. Relativamente, como
não está mais na moda, ser esquerda ou direita se tornou uma questão de
interpretação, sobre a qual se travam polêmicas que raiam os absurdos. Num
estado recém-saído de um Governo centrado no Carlismo com conteúdo autoritário
ainda constitui memorável referência para discernir posições: se não define
quem é quem, pelo menos faz saber onde mora à direita. Ou melhor, devia saber.
Pois na Bahia muita gente parece em poucos dias esquecer os dezesseis anos de
turbulência do carlismo. Aqui, reina certa ilusão como a que ocorreu com Waldir Pires em 1986 que se misturou com a Banda B do Carlismo e depois “Farelo comeu”.
As eleições estaduais de 2006 ilustram
o ponto. A vitória inesperada de Wagner no primeiro turno, do PT, aparece como
triunfo da esquerda, a contestar um suposto direitismo para o qual à aliança
com a banda B do Carlismo fortalece o mito de que para se chegar a uma vitória
no estado, passa-se por uma aliança com setores menos privilegiados do Carlismo
como o que aconteceu com Waldir em 1986, e no final deu no que deu cujo papel
agora, seria substituir o DEM,
considerando moribundo e inútil, na vanguarda das transformações desejadas.
Ora, nem o Carlismo está morto, nem a Bahia votou necessariamente na esquerda.
É só olhar a banda B do Carlismo, presente no palanque de Wagner. Há
infinitamente necessidade que uma “frente de esquerda”, tome as rédeas neste
momento de transição para que a outra Banda podre do Carlismo presente nos
municípios não se apodere da máquina do estado no interior em lugar daqueles
que trabalharam pela vitória desde o início como o que aconteceu com o PL, PTB e PP, na esfera nacional.
Reiterando o dito popular “quem
vê cara não vê coração”, a Bahia revela uma situação complexa e nada original
nas quais as aparências ocultam processos contraditórios que vêm se
manifestando tanto eleitoralmente quanto em termos do espectro partidário (a
aliança que elegeu João Henrique, por exemplo). É com vistas a esclarecê-la que
se deve tentar entender os resultados do último pleito, assim como pensa em
perspectiva o futuro do próximo governo.
Em 2006, de fato, Wagner foi o
grande vencedor. Usando a popularidade do presidente Lula, institucionalizou o
chamado “voto de protesto”, com que elegera Lula em 2002, e penetrou fundo nos
redutos do Carlismo. Tecendo alianças as mais esdrúxulas a fim de levar adiante
seu projeto de chegar ao governo do estado, como de fato chegou. Desse modo,
induziu, por entre as frestas desenhadas pelas dificuldades que o Carlismo
enfrentava, e floresceu um discurso um tanto populista como o feito por Lula,
centrado nas questões sociais, mas nenhum plano de governo consistente para o
desenvolvimento do estado, dominado pelas tendências mais atrasadas que
preferem ver o estado com um dos maiores índices de pobreza e uma educação
estagnada do que dar passagem aos setores modernos que se apresentam. De
direito, as chamadas esquerdas de fato abrigadas na coligação PSOL/PSTU/PCB – na medida em que não postularam ganhar
eleição, apenas marcar posição – acaba por incentivar a candidatura petista.
Para todos os efeitos, o PT arrastou parte da direita, incentivando a
imaginação e o oportunismo de aventureiros de várias matrizes, sendo que alguns
acabaram derrotados como o que aconteceu com Jonival Lucas,
Benito Gama, Udurico Pinto entre outros.
A vitória de Wagner se dá no Bojo
de um processo de transição nacional, em que o governo do Presidente Lula
coloca o social como bandeira, ou seja, significativos avanços no campo social
(como o bolsa família, por exemplo), foram conseguidos e evidentemente muito
está por ser feito ainda em um segundo governo (como ensinar a pescar, por
exemplo) sem, contudo, terem uma expressão institucional que os torne direitos
irrevogáveis. A consolidação e ampliação destes direitos, ou melhor, distribuição
de renda, dependerá da forma como ele se expressará institucionalmente no nível
federal e estadual: além disto, estas distribuições de renda se darão pelo peso
específico que cada uma das forças componentes das alianças políticas tiver no
processo desta institucionalização.
Só neste sentido é possível
admitir que as mudanças conjunturais da vitória de Wagner no último pleito
baiano terão não só uma dimensão nacional como tende inclusive a ter influência
na hegemonia interna do partido dos trabalhadores derrotado humilhadamente em São Paulo.
Tendo imposto importante derrota
à seção melhor estruturada e mais avançada do DEM, em um
dos principais estados de Federação, a emergente articulação do centro esquerda
na Bahia, desequilibra precisamente o eixo estruturador da direita com a
vitória do Lula no 2o turno das eleições de 2006. Foi precisamente a
seção paulista do PT que quase consegue, pagando com a derrota local, expressar
com maior clareza que, no jogo político é preciso muito cuidado para não estragar
toda uma articulação feita.
Contudo, batido nas últimas
eleições o Carlismo não está morto, porém, mergulha na sua mais profunda crise
e passa a ter sua unidade interna erodia não só pela natural tensão da derrota
para o governo do estado e para o senado, como também pela idade e estado de
saúde em que se encontra o seu líder maior.
Uma vez conquistado o governo do
estado, caberá ao PT determinar que modelo de estado economicamente ativo e com
distribuição de renda se deseja que uns dos problemas mais graves do nosso
estado são a concentração de renda nas mãos de poucos enquanto, uma grande
maioria passa fome ou vive a margem da miséria. Portanto, apesar deste quadro
desolador descrito acima, caberá ao novo governo, compor não só uma unidade na
frente que o elegeu, como também na medida do possível conviver com a oposição
Carlista. Cumprindo esses requisitos, estará qualificado para exercer um bom
governo de centro esquerda e, simultaneamente, bater o que sobrou do Carlismo
no estado. A tarefa não é fácil, mas trata-se de passo essencial à democracia
do estado.
______________
*Jeorge Luiz Cardozo é mestre em
políticas públicas e desenvolvimento local sustentável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário