O FRACASSO DA DEMOCRACIA BURGUESA E O FIM DO VOTO!
Por Jeorge
Cardozo*
A idéia desse artigo é suscitar diversas
questões sobre aquilo que se convencionou chamar de fracasso da democracia
burguesa e o fim do voto, e, em especial, o caso brasileiro. Algumas das
questões levantadas aqui são de caráter prático e vivenciado historicamente no
mundo político nacional e outra, de forma teórica e inovadora no campo da
discussão política, que é o fim do voto e a adoção de seleção pública, mediante
concurso público para todos os cargos do executivo, legislativo e judiciário. Como historicamente, a questão da falta de
ética e de uma moral na forma de se fazer política no Brasil, vem deturpada
desde os primórdios, criaram vícios negativos no campo do uso indiscriminado de
dinheiro nas campanhas eleitorais desde o Império, piorado na república do voto
de “cabresto”, do “café com leite”, “Estado Novo”, até chegar aos dias atuais.
Como venho dizendo em artigos anteriores, a democracia brasileira, em especial,
o seu processo eleitoral, vem eivada de vícios escusos, outra época de
problemas envolvidos com fraudes, corroendo toda a possibilidade de
significação nacional (junto com um descrédito profundo dos eleitores para com
os políticos), como meio de racionalizar uma ordem política que, evidentemente,
desequilibrou-se e esteve, talvez, perigosamente próximo do caos – a quão
próxima provavelmente nunca saberá, de uma grande organização criminosa. Na
forma como se usa o dinheiro para comprar eleições, principalmente, nos
executivos municipais e nos legislativos de todas as esferas, ou seja, federal,
estadual e municipal. De modo muito apropriado, considero esse tipo de processo
eleitoral, como sendo uma organização mafiosa que, vem onerando os cofres públicos
em toda a sua estrutura, como ditos acima. Também de modo muito apropriado
afirmo que a maneira pela qual podemos acabar ou amenizar esse quadro
desolador, é se criando algo de novo no que concerne, a escolha de homem
público no Brasil e, porque não, no mundo, seja com a adoção de seleção pública,
mediante concurso público para todos os cargos do executivo, legislativo e
judiciário. Pode até, de inicio, parecer um tanto utópico o que preconizo aqui,
mas tenho certeza que, com o caminhar desse absurdo que é o processo eleitoral
no Brasil e em grande parte do mundo, essa idéia seja a solução a posteriori.
No entanto, algumas das questões
suscitadas por mim aqui, são ainda de caráter teórico e dizem respeito à
formulação duma estrutura para a escolha de homem público convencional adequado
para se refletir a médio, longo prazo sobre o intervencionismo na forma de se
conduzir a escolha de homem público em geral. Ao longo dessas observações, vou
mostrar como poderíamos escolher os agentes públicos, por intermédio de seleção
pública, mediante concurso público e aos que reduzem as novas idéias, a simples
utopias simplesmente superestruturais, a uma mera manifestação teórica. Embora muita
gente vá ignorar essa minha concepção, tenho a clara impressão de que as mesmas
são tão inovadoras que parecerá ficção teórica, mas, ainda assim, parafraseando
Descartes, vejo-me compelido em escrevê-las. Assim, vejo que a única forma de
democracia eleitoral uniforme que, acabaria com toda essa “farra” financeira em
que se transformou o processo eleitoral no Brasil e, em parte do mundo, seria
com a adoção da seleção pública para todos os cargos do executivo, legislativo
e judiciário.
JUSTIFICATIVA TEÓRICA
Cheguei a essa conclusão através do
fracasso que é a democracia burguesa no que concerne ao processo eleitoral.
Vejo que existe uma ligação estreita entre o processo eleitoral e a compra de
votos. Para um cidadão como eu e você, que enxergamos o que está por trás do
processo eleitoral que, diga de passagem, com o advento da urna eletrônica, acabaram
com a farra de se mudar resultados eleitorais, no entanto, no que concerne ao
uso indiscriminado do poder econômico no processo eleitoral (veja o caso do
senado alagoano em 2010), têm-se desvirtuado a correlação de poder no processo
eleitoral. O uso de seleção, mediante concurso público para escolha de
dirigentes políticos e judiciários, se sustenta e precisa ser universalizado e
adotado por toda a comunidade nacional e internacional. Ela servirá de
inspiração ética e moral para os objetivos da real democracia, e por isso, a
adoção de concurso público centra-se em uma nova mentalidade do conceito de se
fazer política.
O processo de mudança impulsionado
pelas crises e o colapso do sistema capitalista e de sua falsa democracia
capitaneada na compra de votos, não tem dado legitimidade nenhuma a esse
processo: a seleção pública, mediante concurso, é um movimento da sociedade
civil planetária para se construir consensos e compartir novos valores na busca
de um novo modo de se fazer a verdadeira política.
A adoção de concurso público tem um
grande potencial cidadão ainda não suficientemente explorado, tanto no campo
das ciências políticas formal, quanto no campo da filosofia política. Por meio
dessa nova proposta de diálogo e divulgação, podemos contribuir na superação do
modelo atual de escolha de homem público e do atual estágio que vivemos hoje,
da fracassada democracia burguesa. Vivemos uma crise não só econômica, mas,
também, de civilizações, e a adoção de nova fórmula de escolha de homem público
em todas as suas esferas, executiva, legislativa e judiciária poderá ajudar a
superá-la. Os princípios e valores da nova escolha podem servir de base para a
criação de um sistema global de escolha de homens públicos, uno e diverso, sob
a coordenação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que poderá selecionar a
instituição aplicadora das provas, através de processo licitatório, com base em
instituições com ampla experiência participativa nesse setor de atividade. Não
se trata de mera formulação teórica o que proponho aqui. É antes de qualquer
coisa, uma nova visão de mundo e de moralização do homem público, nas suas três
esferas. Também, não se trata de formar um sistema ideologicamente único, o que
seria uma iniciativa vazia. Trata-se de moralizar o sistema falido de compras
de votos, que gera, na sua maioria, as demais corrupções públicas. Quanto custa,
de fato, eleger um vereador, deputado estadual, federal, senador, prefeito,
governador, presidente? De onde vem, de fato, toda essa dinheirama? Precisamos
esclarecer, antes de qualquer coisa, o que está por trás disso tudo, o que tem
em comum, os diversos setores empresariais e a maioria dos mandatos em todas as
esferas, é preciso se discutir tudo isso. Precisamos buscar solução pra toda
essa vergonha, transvertida de democracia.
Está demonstrado que a democracia
burguesa com sua fórmula de voto universal, na prática não existe, o que há na
verdade, é uma verdadeira “máfia” infiltrada na maioria dos partidos (porque
não em todos?). A adoção de seleção pública, mediante concurso, em lugar do
voto, pode acabar com esse conflito. A seleção pública poderá servir, em muitos
casos, como base para a solução desse modelo insustentável de se fazer
política, principalmente no baixo nível cultural de parte do povo brasileiro
que são “analfabeto político”. Ela poderá nos ajudar a superar os
fundamentalismos políticos em parte do mundo que hoje desafiam o convívio
pacifico de povos em várias nações do planeta terra. O principio da seleção,
mediante concurso público, de responsabilidade universal, será estabelecido por
mudanças constitucionais em todas as nações, podendo nosso país, ser o
pioneiro. Toda e qualquer mudança é igualmente penosa e de difícil assimilação
pelas classes dominantes em cada contexto histórico. Portanto, a mudança que
aqui agora, ainda em fase teórica e preliminar proponho, também será motivo de
“chacota” por parte dos conservadores e por boa parte dos detentores de poder,
pois, perder status quo conquistado, sempre assusta. Portanto, cada um que
comungar com essa idéia, deverá divulgá-la, em diferentes meios, funções e
particularidades.
Portanto, a seleção pública, mediante
concurso, aqui proposta representa uma importante contribuição para uma nova
visão de mundo e integrada com os problemas da crise atual vivida pelo capital,
abre espaço para introduzirmos novos valores no campo da política e do capital.
Por isso, essa nova visão de concepção eleitoral surge como uma energia mais
poderosa do que a fracassada democracia burguesa. A verdadeira democracia
perpassa pela adoção da seleção pública para os três poderes sejam eles
executivo, legislativo e judiciário.
Muitas serão as críticas a esse novo
conceito posteriormente, muitas vezes pelo seu uso reducionista e sua
“trivialização”, apesar de ser politicamente correto e moralmente nobre, se
escolher o homem público através de concurso público, fica claro que concurso
público e democracia burguesa, há grande abismo e uma incompatibilidade de
princípios. Essa será uma luta de base teórica, prática e ideológica que pode
inviabilizar a idéia aqui exposta, pois, desconstruir status quo constituído,
incomodará. Tentar conciliar dois termos inconciliáveis não em si,
metafisicamente, no atual contexto da democracia burguesa, não é o objetivo. O
conceito de concurso público é inaplicável neste contexto político econômico
vigente, portanto, será imprescindível a participação da sociedade civil e dos
partidos de esquerda com compromisso com a democracia participativa. Como pode
existir uma nova idéia de escolha de homem público, numa sociedade regida pelo
lucro e pela corrupção ativa e passiva, pela acumulação ilimitada de poderes e
pela exploração do eleitor através da compra de votos e de favores escusos?
Levado às suas últimas conseqüências, o ideário aqui exposto, coloca em questão
não só o modelo político existente, mas o próprio paradigma econômico
capitalista vigente. Ele, o novo projeto, só terá sentido com a participação dos
entes organizados, numa nova visão política capaz de entender a complexidade do
tema exposto.
Os graves problemas da democracia
burguesa e as críticas a esse modelo de se fazer política, tem gerado em parte
da sociedade, um mal estar e um sentido de mudança. É só ver o que aconteceu
com PT e o seu “mensalão” que, deixou parte da sociedade extenuada. É difícil
para um especialista em política, julgar as ações do PT, mas, no entanto, fica
fácil analisar o que está presente no processo político eleitoral vigente,
viciado na compra de votos. Essa experiência tem nos mostrados que a democracia
burguesa fracassou e, que, o fim do voto é possível com a adoção do concurso
público.
Os graves problemas presentes no
modelo atual de votação geraram na sociedade, uma inércia e descrédito para com
os agentes públicos. Embora esse descrédito não tenha ainda provocado mudanças
profundas na forma do eleitor escolher os seus mandatários, pelo simples fato de
não termos composições teóricas capazes de trazer algo de novo que, venha
delinear profundas visões críticas a cerca do modelo eleitoral vigente.
Portanto, essas experiências aqui preconizadas, ainda em fase inicial, apontam
para o nascimento de uma sociedade mais crítica e que aos poucos, vão
transportando essa nova idéia. Dessa forma, como bem afirma (Harvey, 2006:87),
“a democracia burguesa sobrevive apenas com o consentimento da maioria dos
governados; no entanto, ao mesmo tempo, tem de expressar o interesse distintivo
da classe dirigente”. Fica evidente que a classe dirigente exerce sua hegemonia
sobre a democracia criada por elas, por meio de um sistema político/eleitoral
viciado no uso da máquina financeira que é capaz de controlar todo o sistema político
vigente. No contexto da democracia burguesa, isso apresenta algumas
conseqüências importantes; para representar sua hegemonia na esfera política e
econômica, “a classe dirigente, em determinado momento, faz concessões que não
são de seu interesse econômico imediato, sem, no entanto, tocar no essencial”,
grifo nosso (Gramsci, 1971:182).
Dessa forma, podemos considerar a
idéia aqui exposta, mais como um conceito orientador inicial do debate que está
por vir e, também, como orientador para a ação, e na ação pode dar-lhe conteúdo
e forma concreta a práxis. Nesse sentido, a adoção do concurso público para
todos os entes públicos surge como uma “transição” para uma nova ordem, o que
exige uma mudança profunda no paradigma eleitoral vigente e na forma de vermos
a política. O concurso público é conceito maior do que a fracassada democracia
burguesa.
Enquanto o modelo eleitoral vigente
hoje no mundo capitalista aponta para a insustentabilidade democrática mundial,
o conceito de concurso público aponta para a sustentabilidade democrática
participativa planetária. Aqui se
encontra a força mobilizadora desse conceito. O desafio será de todos em mudar
de rota e caminhar em direção ao novo por outra democracia participativa. Digo
participativa, pois, com a adoção do concurso público, a política terá lugar
para todos e todas, gêneros e classes que, podendo ou querendo estudar para
passar nas seleções, terão mais oportunidades. Alguns críticos poderão preconizar
que, a priori, ainda haverá distorções devido ao maior grau de conhecimento das
classes dominantes, que é verídico a priori, mas, no entanto, estamos em um
processo de avanços das classes por menores nos níveis de conhecimentos,
portanto, é um processo muito mais justo do que a fracassada democracia burguesa
e seu processo eleitoral vigente.
Por esta causa, conclamo você que é verdadeiro
cidadão para juntos criarmos comitês de debate na sua cidade, na sua escola, na
sua faculdade, enfim, onde você puder para podermos ampliar essa discussão,
pois, essa é a solução para a compra de votos no Brasil e no mundo.
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*Jeorge Luiz Cardozo é mestre em políticas públicas e desenvolvimento local sustentável,
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